11/08/2022
II COLÓQUIO INTERNACIONAL FENOMENOLOGIA E POLÍTICA: O Mundo Natural de Jan Pato?ka e as heréticas historicidades territoriais da América Latina
Universidade Estadual de Campinas
O Laboratório de Geografia dos Riscos e Resiliência (LAGERR), por meio do Nomear – Grupo de Pesquisa Fenomenologia e Geografia, da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas [FCA-Unicamp], convida a todos para o II Colóquio Internacional Fenomenologia e Política que será realizado entre os dias 11 e 12 de agosto de 2022.
A temática deste ano, que ainda enfatizará as perspectivas políticas da fenomenologia juntamente com uma abordagem sobre o contexto urbano das cidades da América Latina, visa agora aprofundar o debate sobre mais um conceito de Jan Patocka: o Mundo Natural.
Para este filósofo, grosso modo, o Mundo Natural é a esfera plural da política, em que a vida comunitária é o compartilhamento dos riscos da experiência do viver. Se con-formaria no jogo entre Céu e Terra, enfatizado primeiramente por Martin Heidegger, porém, com certa situacionalidade tácita de seu Da-sein. Isto, pois Heidegger nunca problematizou de fato a fenomenalidade do Mundo humano, ou seja, o seu caráter de proto-horizonte.
Se, em Heidegger, o Mundo estaria sendo lido pela ótica da palavra Topos que, em síntese, designaria o lugar em que cada coisa apareceria como um ente – porém, em um desvelamento em que este emergiria através da reunião do des-encobrimento pelo habitus – , significaria dizer que haveria uma certa possibilidade de linguagem poética que abriria de forma arrebatadora a manifestabilidade de qualquer coisa no Mundo. A linguagem, edificada e cultivada numa dimensão de movimento (Das ring) em que não só o tempo, mas também o lugar estaria afinado a este habitus, se identificaria com uma Polis não problemática (lugar original do Topos), ou seja, conformada no que ele identificou - a partir da leitura dos clássicos gregos – de “abóboda celeste”.
Todavia, algo que fora esquecido pelo filósofo da Floresta Negra foi justamente a corporeidade de seu Da-sein em relação a esta abóboda celeste, pois é perceptível em Heidegger que seu ser-aí, paulatinamente, deixa de ser um ser-com (encarnado) para se tornar um ser que beira uma linguagem unívoca. Será que o habitus do Mundo de Martin
Heidegger correria o risco de cair num vicioso eterno retorno do mesmo? Seria possível precisar há quantas gerações de seres estas aberturas do Mundo seriam válidas em termos de linguagem discernível?
Desta forma, Jan Pato?ka designa que o Mundo Natural teria por epoché a vida comunitária, justamente pela suspensão do juízo dos valores deste Dasein quando abarcado pela força da Terra. Em outras palavras, quando nos movimentamos no Mundo, o fazemos arraigados na Terra, tornando-nos assim não somente um ser-no-mundo, mas um ser-do-mundo circunstancializado naquele jogo entre Céu e Terra em que, a cada desencobrimento do Mundo, percebemo-nos enquanto posicionados. Isto significa que nossa singularidade também muda (abalo) conforme aparecem (sentir) as situações cotidianas, fazendo com que a intencionalidade não se transforme em algo engessado, mas num movimento-com e não meramente numa intencionalidade-para em que a proto-horizontalidade do Mundo se manifesta individualmente.
Mas, mesmo assim, haveria dúvidas: estaria garantida a aparição da alteridade de forma integral mesmo neste Mundo Natural de Pato?ka? Abarcaria a imobilidade da Terra (lida por ele como uma epoché sem redução) seres tão díspares e com tantas intencionalidades como são os povos latino-americanos? Haveria alguma possibilidade real de suspensão de juízo em que se poderia tratar de problemas tão urgentes, como foi o da própria pandemia, de forma discernível para lugaridades como, por exemplo, Limeria (Brasil), Niterói (Brasil), Morélia (México) e Buenos Aires (Argentina)?
Desta forma, o propósito do evento será o de debater quais seriam as possibilidades ontológicas ou, melhor dizendo, históricas de se pensar uma (des)construção epistemológica aos problemas envolvendo as cidades latino-americanas, de forma que os mesmos pudessem ser relevados de forma mais holística num continente de intensa vivacidade de territórios. Se preferível, onde estariam nossos olhares heréticos frente às classificações mais clássicas de Mundo Natural, comumente dadas pelo âmbito do Estado-nação e identificados pelos perímetros cartográficos de cada país, em relação às inúmeras formas de habitar latino-americanas?
O evento tem inscrições gratuitas e será todo realizado pelo Canal no YouTube de Eventos da Faculdade de Ciências Aplicadas da Universidade Estadual de Campinas – FCA/Unicamp.