05/09/2023
XI Festival Games for Change América Latina: Pensamentos, Pesquisas e Práticas pela Sustentabilidade Descolonial
Online
5 a 9 de setembro de 2023
Call for Papers
Planeta Terra: GAME OVER?
Pensamentos, Pesquisas e Práticas pela Sustentabilidade Descolonial
Nesse momento de ameaças globais à paz, à saúde, ao meio-ambiente, à inclusão social e à diversidade cultural, a indústria e o desenvolvimento de games e de todas as tecnologias e práticas associadas à dimensão lúdica da vida precisam encarar um desafio: a superação da história colonial em nome de uma nova esfera pública global sustentável e inclusiva.
Isso pode parecer ser um contrasenso: Afinal, não seriam games indissociáveis das técnicas e ciências modernas por meio das quais o colonialismo se impôs às culturas ditas “não-ocidentais”, promovendo não apenas a conquista material, mas também o extermínio de culturas e o epistemicídio de filosofias e modos de vida?
Nesse contexto, nada pareceria encarnar mais perfeitamente a imagem das mazelas dos indivíduos e coletivos na sociedade moderna que o retrato do “gamer” enclausurado em seu quarto, mundo paralelo e fechado ao mundo, metaverso em isolamento sedentário experienciando a vida através da tela de seu computador ou telefone celular. Alimentado e retroalimentado por uma ilusão de onipotência que dá vazão a “conquistas” ou “alívios” obstinados, frequentemente confundindo lazer e criatividade com escapismo e massificação da solidão, o consumidor intensivo de cultura digital contribuiria assim, segundo essa perspectiva, também para o esgotamento de recursos naturais, sendo co-responsável pela aceleração da destruição ambiental.
Diante disso, caberia perguntar: estamos nos aproximando rapidamente de um “game over planetário? Serão as guerras assimiladas a jogos digitais de vida e morte, arrastando em seu desenvolvimento novas formas de exclusão, isolamento e vigilância? É desejável um metaverso sem diversidade, afetividade e engajamento autênticos num mundo de incertezas crescentes, individuais e coletivas? A colonização mental é um passo a mais na deterioração de nossas condições de vida?
Mais, porém, de nos questionarmos sobre os riscos dos games e da cultura atrelada a eles, poderíamos também, apesar de tudo, nos perguntar: será que essa caricatura dos games, e do que eles representam, não acaba por ocultar o potencial emancipatório e descolonial contido no design de games e de jogos em geral, em sua capacidade de nos apresentar e nos inserir em outros mundos possíveis – inclusive, mundos nos quais se restaura a natureza à sua dignidade própria?
Seria viável e desejável exercitar por meio do desenvolvimento de games a abertura de horizontes que talvez apenas em práticas ludicas ganham visibilidade e expressão criativa?
Poderiam os games possibilitar vivências de resgate ancestral e também vias de acesso a novos sonhos?
Ao contrário dos vendedores de elixires “gamificados”, o desenvolvedor engajado às causas da rede mundial “Games for Change” cria experiências lúdicas voltadas a motivações comprometidas com a integração entre Natureza e Cultura, valorizando as expressões individuais de opinião e identidade em favor de uma sociedade da informação marcada pela diversidade, pela democracia e pelo florescimento de novos modelos de trabalho, educação e relacionamento muito além do que hoje é oferecido por redes sociais e plataformas de precarização da vida em comum.
Os jogos e games, numa perspectiva política lúdica transformadora, podem nesse momento dar lugar de destaque para o entretenimento digital responsável e solidário, para a superação dos modos de pensar colonizados e para a promoção de modos de viver em que o consumo não reforça padrões de concentração de poder, riqueza e acesso a recursos naturais, alimentares e energéticos.
DESCOLONIZAÇÃO x GAMIFICAÇÃO?
A palavra-chave dessa proposta é “DESCOLONIZAÇÃO”. Qual o potencial emancipatório e descolonial do design de games e de jogos em geral? É viável e desejável exercitar a abertura de horizontes no desenvolvimento de games para acolher práticas lúdicas transformadoras com grande visibilidade e valor criativo? Os games podem ser fontes inovadoras de vivências de resgate ancestral e vias de acesso a novos sonhos? Que indivíduos e culturas podem manifestar-se por meios digitais dando expressão a outras cosmotécnicas?
Como alerta o filósofo Yuk Hui, há formas diversas de conceber a relação entre ser humano e natureza, entre cultura, técnica e natureza, que podem contribuir para a descolonização do pensamento e para uma abertura das nossas formas de conhecimento e solução de problemas que resgatam e promovem modelos e percepções de mundos muito além dos limites do eurocentrismo. Diante dessa perspectiva, que novas práticas materiais e imateriais ainda serão inventadas por quem desafia a seriedade das regras existentes a partir de engajamentos lúdicos, digitais e analógicos? Em escolas, empresas e outras organizações? Em movimentos sociais e políticas públicas? No contexto local mas também com alcance global?
ENVIE UMA PROPOSTA
Essas questões de fundo animam a curadoria do XI Festival Games for Change América Latina que, em 2023, associa-se à celebração de 20 anos do movimento cujo Festival em Nova York acontecerá em julho.
Trabalhos acadêmicos, relatos de experiências, estudos de caso, modelos pedagógicos e propostas práticas em campos como empreendedorismo, inovação e políticas públicas serão selecionadas por meio de um processo de revisão cega (“blind review”) com o objetivo de propiciar um retrato atualizado e crítico da indústria, da pesquisa e do engajamento no universo dos jogos transformadores, digitais ou não, em todos os suportes e formas de fruição possíveis.
Os trabalhos selecionados serão apresentados no XI Festival Games for Change América Latina (5 a 9 de setembro de 2023), onde a mesma temática será inspiração para game jams e para mais uma edição do “Pitch for Change”, o concurso anual de jogos pela transformação.
Como apresentar uma Comunicação?
As propostas devem conter:
(1) nome do expositor,
(2) e-mail,
(3) maior titulação acadêmica,
(4) instituição e área em que obteve o título ou que está em curso,
(5) título da apresentação,
(6) resumo de 200 a 300 palavras,
(7) 3 a 5 palavras-chave,
(8) Modo (presencial ou remoto),
(9) Formato da apresentação da Comunicação (texto, poster, vídeo, áudio).
(10) Língua (prioridade para português, espanhol, francês, alemão ou inglês),
(11) Declaração de ineditismo ou referência a evento (há até dois anos) em que foi apresentado,
(12) Autorização para reprodução do conteúdo em regime de “creative commons”.
Formatação da Proposta
O resumo deve ser enviado em arquivo com formato .doc ou .docx, com a seguinte formatação: Times New Roman, tamanho de letra 12 e espaçamento entre linhas 1,5. Caso o arquivo tenha fontes em escrita não-românica, solicitamos que a fonte seja enviada junto com o arquivo. Solicitamos ainda que os arquivos das propostas tenham por título o nome completo do proponente em caixa alta (Ex.: FULANO DE SOUZA).
As Comunicações selecionadas poderão ser feitas tanto no formato de apresentação oral quanto no de poster, vídeo ou áudio de acordo com a preferência do proponente.
No caso de comunicação oral, ela deverá ser de até 10 minutos, com 5 minutos adicionais para questões e discussão ao vivo pela internet. No caso de posters, haverá uma página web para exposição neste formato associada à Games for Change América Latina.
Referências
Ballestrin, L., América Latina e o giro decolonial, Rev. Bras. Ciênc. Polít. (11), Agosto, 2013,
https://doi.org/10.1590/S0103-33522013000200004
Hui, Y., Tecnodiversidade, Ubu Editora, 2020
https://www.ubueditora.com.br/tecnodiversidade.html