02/12/2020
As origens da opressão: a escravidão humana e animal
SINOPSE: “As origens da opressão: a escravidão humana e animal” é um livro que deseja nos colocar diante de nossa própria condição de seres opressores – o que significa dizer que não estamos falando aqui em uma etnia, um povo, uma civilização, mas da própria construção do humano enquanto um ser que, desde os primórdios, se colocou no topo de uma hierarquia, se pensando como dotado de uma natureza superior, em oposição ao demais seres físicos. Trata-se de um corte que se fez no âmbito do próprio ser, estabelecendo uma primeira hierarquia, da qual decorreriam todas as demais. Em poucas palavras, o homem primeiramente se colocou como superior à natureza, para logo, em seguida, introduzir uma hierarquia entre os próprios homens. E é em nome desta superioridade que ele falaciosamente justifica a subjugação da natureza e a dos próprios seres humanos. Segundo a autora, é preciso entender, de uma vez por todas, que os fundamentos da opressão são sempre os mesmos; o que varia são as suas vítimas. E um dos fundamentos básicos da opressão é esta ideia de superioridade, que funda o princípio imoral de uma hierarquia de vidas. Não sem razão, vemos, ao longo da história, humanos sendo considerados menos humanos que outros (ou até não humanos), tanto quanto vemos, no caso dos animais, a exploração e a usurpação de vidas atingindo níveis ainda mais cruéis, simplesmente porque os animais não têm voz, ou seja, eles não podem se defender dos que tiranizam suas vidas. Eis que a questão primordial do livro é chamar a atenção de todos nós para o fato de que a exploração animal, a subjugação de todas as espécies, não é uma coisa à parte da opressão humana – e não só porque os maiores opressores da vida animal são também, em geral, os da vida humana, mas porque ela é parte de uma lógica maior e mais perversa que está na base do que a autora chama de “forma-homem”, que, desde tempos imemoriais, se construiu como usurpadora e tirana de vidas. É por esta razão que, segundo Regina Schöpke, a opressão se desdobra ao “infinito”. Porque, ou paralisamos em nós mesmo este opressor, o déspota que nos habita, diz a filósofa, ou estaremos sempre reforçando a mesma lógica que também serve de justificativa para nos oprimir e nos escravizar. É assim que vemos os próprios conceitos de opressão e de escravidão serem repensados e ressignificados (abarcando todos os seres que são aviltados em seu direito à vida e à liberdade), pois esta é a única forma de atingir, de golpear nas entranhas, as causas mais profundas da tirania humana. É um dizer “não” absoluto a toda forma de tirania e opressão. Resumindo: este é um livro que reúne ensaios e artigos que estão absolutamente conectados entre si, tendo por fio condutor a problematização repleta de sutilezas e minúcias que fazem subir à superfície o que subjaz de mais obscuro em nosso belo conceito de humanidade: a hierarquia dos seres, a hierarquia de vidas. No fim de tudo, a desconstrução do homem opressor implica diretamente em se dissolver esta hierarquia de vidas e, não por outra razão, como diz Regina Schöpke, “libertar o animal é libertar o homem também”.
REGINA SCHÖPKE é filósofa e historiadora. Doutora em Filosofia pela UNICAMP, Mestra em Filosofia pela UFRJ e Mestra em História Medieval pela UFF, ocupa atualmente o cardo de Professora Adjunta da Graduação e da Pós-Graduação em Filosofia da UERJ. Traduziu diversos livros de filosofia, ciências humanas e publicou resenhas de livros em jornais de grande circulação. É autora de Por uma filosofia da diferença: Gilles Deleuze, o pensador nômade, Matéria em movimento - A ilusão do tempo e o eterno retorno e Dicionário Filosófico.