12/07/2022

Em A cidade de Deus, a crítica dos milenares valores pagãos constitutivos da república e da história romanas coincide com uma clara demolição do projeto de dominação e poder da cidade terrena em geral, porém de uma maneira criativa, porque se trata de uma consideração da política que apresenta um novo projeto de humanidade, de sociedade, de moralidade, de racionalidade, em suma, um projeto de re-fundação da civilização. A proposição é de uma nova política que não simplesmente reitere práticas de poder e dominação pela mera inversão dos lugares tradicionais das classes dominantes e dominadas, mas que transforme a interioridade da sociedade. Para tanto, Agostinho confronta a experiência histórica com um modelo de sociedade ideal (ou paradisíaca), de que depreende – a ver se deduz – ideias transcendentes que cumprem papel semelhante de ideias reguladoras. Eis por que proponho que haja em Agostinho um Platonismo da Facticidade.