03/09/2021
"Hamlet e a filosofia" de Pedro Süssekind
Hamlet e a filosofia (7letras, 2021)
Sinopse
Resultado de dez anos de pesquisas, este ensaio sobre a relação de Hamlet com a filosofia se divide em duas partes. Uma delas, intitulada “A filosofia em Hamlet”, segue uma abordagem histórica e é dedicada à discussão das fontes que o dramaturgo incorporou na composição de sua obra-prima. A outra, “Hamlet na filosofia”, volta-se para o estudo da recepção crítica da tragédia, destacando interpretações elaboradas por filósofos desde o século dezoito até os dias atuais. À medida que são indicadas as apropriações e as leituras filosóficas mais relevantes, desenvolve-se também um comentário de sua estrutura, de seu enredo e das reflexões de seu protagonista.
Assim, a primeira parte do livro considera Shakespeare como um intérprete da sua tradição e de seu contexto, adaptador de crônicas, leitor de autores como Sêneca, Erasmo, Maquiavel e Montaigne. Hamlet ganha, a partir do mapeamento dessas influências, o contorno de um debate sobre os temas históricos, políticos e culturais que marcaram o início da época moderna. A relação com a filosofia diz respeito, nesse caso, às apropriações de correntes de pensamento como o estoicismo, o maquiavelismo e o ceticismo. Elas podem ser associadas a personagens determinados, uma vez que o fiel amigo Horácio é um estoico, o rei usurpador Cláudio, um maquiavelista, já Hamlet admira o estoicismo, joga com o maquiavelismo, mas assume uma postura filosófica próxima do ceticismo. A essas correntes soma-se o debate teológico entre a doutrina católica e a protestante, posto em cena com a misteriosa figura do fantasma.
A segunda parte do livro segue a direção oposta. Ela comenta as diversas leituras da peça, muitas vezes antagônicas, que foram feitas por pensadores como Voltaire, Goethe, Hegel, Nietzsche, Freud, Benjamin, Lacan, Derrida e Danto. Nas interpretações propostas por esses autores, identifica-se uma tendência de projetar sobre o protagonista da tragédia as próprias ideias, fazendo de Hamlet ora um moralista, ora um romântico, ou um pessimista, um neurótico etc. O personagem parece ter uma capacidade sempre renovada de despertar espelhamentos das concepções e das épocas de seus intérpretes. Com isso, a quantidade e a diversidade de avaliações críticas de Hamlet ao longo do tempo demonstram que a peça sempre se manteve como uma obra surpreendente e desafiadora. Dependendo de como o texto é interpretado, ela pode adquirir características de um drama histórico sobre a guerra, de uma tragédia existencial, de uma narrativa romântica ou de um problema filosófico em forma de teatro.