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Hegel e o oculto: uma abordagem materialista. Volume 1.
Se há algo próximo de um consenso entre os estudiosos de filosofia, é que o pensamento de G. W. F. Hegel é o mais difícil de compreender entre os grandes filósofos. Há diferentes razões para essa dificuldade, mas a principal delas é o desconhecimento do caráter místico desse pensamento, caráter patente para os primeiros intérpretes de Hegel, mas posteriormente invisibilizado nas principais linhas de interpretação. Neste livro, o primeiro de dois volumes que são a versão corrigida e ampliada de uma tese de doutorado em filosofia pela Universidade Federal de Pernambuco, Lucas Hades-Kaeté propõe o resgate desta velha compreensão da filosofia hegeliana: o idealismo absoluto como uma forma de misticismo, ou esoterismo. Um pensamento internamente vinculado à tradição mística do Ocidente.
Esse resgate é realizado a partir de uma nova ontologia materialista, com uma abordagem materialista do misticismo de Hegel, da tradição mística como um todo (o que incluirá a religião e a metafísica) e da espiritualidade em si. Tal ontologia, que se reivindica como materialismo científico-filosófico, é vinculada ao debate atual da Virada Ontológica da filosofia, mas com um foco, aqui, particular: o fundamento desse novo materialismo é introduzido no presente estudo não para pensar propriamente, em primeiro plano, a realidade material em si, ou como um todo (isso será objeto de outro livro), mas para pensar em termos materiais o que a filosofia tradicional, que chegou a termo com Hegel, concebeu como a realidade verdadeira: o mundo suprassensível, divino, espiritual. Aquilo que, desde Kant, foi popularmente considerado incognoscível; ou, desde a formação do materialismo moderno (seja o materialismo científico ordinário ou o materialismo dialético), considerou-se inexistente.
Assim, enquanto as demais ontologias contemporâneas simplesmente propõem novas formas (não tradicionais, não metafísicas) de pensar a realidade, mas se posicionam, perante a tradição, do mesmo modo que a crítica anterior da metafísica - assumindo a incognoscibilidade ou a inexistência do suprassensível -, a ontologia materialista de Hades-Kaeté se propõe a esclarecer de um modo próprio não só a realidade como tal, mas também, a partir disso, o conteúdo do pensamento tradicional, com vistas a uma rearticulação integral da crítica.
Uma vez que se compreenda a pertença de Hegel e da metafísica à tradição mística, a chave está na compreensão materialista do misticismo e da espiritualidade tradicional: que o conteúdo espiritual oculto diz respeito à farmaceia (uso de drogas) e aos estados alterados de consciência, entendidos como capacidades inatas da matéria humana. Numa única expressão, o conteúdo místico, e consequentemente o conteúdo da filosofia hegeliana em particular, diz respeito à alteração farmacológica da consciência, praticada pela humanidade desde o xamanismo paleolítico, quando a divindade ainda não era um segredo.
Sob essa ótica, a leitura de Hegel ganha uma luz inesperada, e o todo do sistema se manifesta de uma forma inaudita e surpreendente – que, no entanto, só é realmente uma novidade em comparação com as leituras habituais, pois é o aprofundamento do ponto de partida histórico obscurecido e abandonado dos estudos da obra hegeliana.
Por enquanto, está disponível o ebook.