25/05/2022

Lançamento do livro "Entre política e ontologia: o bom na República de Platão", de Germano Nogueira Prado

Livraria e Edições Folha Seca - Rua do Ouvidor, 37 - Centro - Rio de Janeiro, RJ

O livro Entre política e ontologia: o bom na República de Platão, de Germano Nogueira Prado, procura repensar uma questão clássica e tradicional -- a ideia de bom na República de Platão -- a partir da elaboração de algumas implicações de duas hipóteses no mínimo não tão clássicas, e certamente não tradicionais, a saber: 1) a de que a ideia de bom é o fundamento comum da política e da ontologia, ou o poder comum entre agir e ser; 2) a de que a ideia de bom se deixa pensar a partir das noções de "limite" e "próprio", as quais, por sua vez, desembocam na ideia de "singularidade". Para fazer isso, o livro passa pelos usos comuns de "bom" e "bem" (em português e em grego), por diversos conceitos relacionados no texto platônico à ideia de bom (desejo, paradigma, aprendizado, disciplina, a própria noção de "ideia"), pela relação entre forma e conteúdo no e do texto de Platão, pela discussão da filosofia como forma de vida e, por fim mas não por último, pela ideia de uma "pedagogia (e uma política, e uma ontologia) da singularidade" pensada e praticada desde as salas de aulas dos diversos níveis de ensino, e isso não apenas na disciplina "filosofia".

O livro é oriundo da tese de doutorado do autor, defendida em 2016 e que ganhou Menção Honrosa no Prêmio Capes de 2017. Reproduzimos, abaixo, a orelha da obra, escrita pela prof. Luisa Buarque (PUC-Rio). O livro conta ainda com "Apresentação" escrita pela prof. Carolina Araújo (UFRJ) e quarta capa escrita pelo prof. Gilvan Fogel (UFRJ).

"O título do livro de Germano Nogueira Prado entrega ao(à) leitor(a) a chave de seu mistério: o limite entre ontologia e política é um tema filosófico de extrema complexidade e a República de Platão é um clássico da filosofia, mas “o bom” remete ao sabor de uma leitura que aproxima o texto grego do nosso paladar e da nossa língua. Por isso, Machado e música popular não poderiam faltar entre os ingredientes dessa refeição saborosa, apresentada em português brasileiro da mais alta qualidade, que soa a conversa entre amigos e é abençoada pelo manto sagrado do Vasco da Gama. 

Já no prefácio, por meio de uma divertida brincadeira de mise en abîme bráscubiana e metaliterária, são provocadas no leitor reações que vão dos leves sorrisos às gargalhadas sonoras, sem que se perca de vista a função de instigar a reflexão e apresentar o conteúdo da obra. Na introdução, entre coleções de usos cotidianos das expressões ‘bem’ e ‘bom’ e citações do refrão de Carlos Imperial (“Ele é o bom, é o bom, é o bom”), consolida-se a promessa que o autor não descumpre ao longo do livro: abordar as questões mais intrincadas da filosofia platônica sem aparar suas arestas, mas também sem deixar de aproximá-las de nossas experiências cotidianas. Percorre-se em seguida um largo leque filológico e filosófico que passa pelos usos pré-platônicos do termo agathós (‘bom’) e pela análise de trechos fulcrais da República, culminando em um fundamental epílogo pedagógico que vem depois do fim. À guisa de brinde, segue-se um apêndice de ordem nada acidental sobre a noção de imagem e, para finalizar com o mais doce dos exageros, uma pletora de 24 teses e 5 antíteses interrogativas de sobremesa. Ao longo do percurso, conduz-nos um fluxo inteligente de raciocínios precisos e simples, ajustados à medida de nossos ouvidos e de nossa fala.

Mas não nos enganemos a respeito da operação aqui proposta. Não se trata de tornar palatável o texto de Platão, tampouco de aligeirar as questões abordadas. Trata-se, antes, de confeccionar um trabalho claro e rigoroso, direto e penetrante, simples e urgente, em que o encadeamento argumentativo e o pathos reflexivo não sufocam a irrupção do humor. As potencialidades da língua são exploradas sem qualquer violência e sempre em prol do esclarecimento dos textos e contextos analisados. A questão é vital e decisiva, por ser um elemento comum de nossas existências; é complexa e extensa, porque requer um aparato crítico erudito e uma provisão filosófica de peso; todavia, não precisa ser tratada de modo sisudo ou solene. Afinal, é o próprio Platão quem nos convida a pensar que a vida é tragédia e comédia e que o riso se afina perfeitamente bem com o pensamento filosófico. O resultado da leitura é, sem dúvida, uma plena amizade filosófica pelo autor, pelo texto platônico e por este ‘bom’ no qual se encontra a raiz comum da ontologia e da política, em vista do qual se é e se age. 

Luisa Buarque"

Link: http://www.editora.ufrj.br/produto/214/entre-politica-e-ontologia--o-bom-na-republica-de-platao