05/09/2024

Livro: Evasão como renovação do problema do ser: o tempo no horizonte da singularidade e da pluralidade

Parágrafos para o livro de Adriano Maslowski

Por Nilo Ribeiro Junior

“A temática da Evasão do Ser é, sem sombra de dúvidas, uma das questões mais candentes e das mais intrigantes de que se ocupa o pensador Emmanuel Lévinas ao longo do grande arco de sua produção filosófica. De fato, sua árdua e fecunda escritura condensada nos primeiros escritos em torno de Da Evasão (1935) passando pela obra da juventude de Totalidade e Infinito (1961) para desembocar nas publicações da maturidade reunidas na célebre obra Autrement qu’être (1972) atestam a determinação incansável do filósofo franco-lituano de ir pessoalmente com seu escrito, ou mesmo de conduzir seu leitor, para além e para aquém do Ser contra a redução da transcendência do infinito do Outro à imanência da impessoalidade do Ser. Nesse contexto, é de se exaltar a obra de Adriano Maslowski que acaba de vir a público, uma vez que ela se apresenta como extremamente perspicaz e instigante para o leitor que queira refazer o trajeto, ou melhor, que deseje acompanhar à risca o itinerário de evasão do ser percorrido pelo filósofo franco-lituano, sem se perder nos meandros de um pensamento de difícil acesso devido aos diversos fios que constituem sua tessitura feita do cruzamento da tradição grega e da sabedoria hebraica.

Com o intuito de poder compreender o alcance do subjacente paradoxo que acompanha a obra levinasiana sem, contudo, deixar-se tragar por uma funesta aporia, sendo que, por um lado o autor postula a interrupção do ser e, por outro, retorna à possibilidade de pensar um outro modo de ser a partir da primazia concedida ao outramente que o Ser, o contato com o ineditismo da obra do filósofo gaúcho Adriano Maslowski se revela como uma passagem obrigatória. Ora, a obra A evasão como renovação do problema do ser (2024), do jovem filósofo permite entrar em contato com as nuances de cada passo bem como com os vestígios das pegadas deixadas por Levinas em cada fase de seus escritos a respeito de seu movimento de ida ao Bem para além do Ser desde a relação de face a face e do corpo a corpo com o Rosto de outrem para, em seguida, partindo-se da ética poder ir em direção de uma abordagem de outra maneira de ser, a ponto de o filósofo lituano chegar a colocar em questão o fechamento da ontologia contemporânea para outrem. De fato, o jovem filósofo gaúcho não poupa esforços para oferecer ao seu leitor uma leitura de tipo pancrônica da questão do Ser desde o vivo confronto com a obra levinasiana. Isso permite à sua investigação em torno da questão do ser, de poder reabilitar a noção de tempo com a qual se tece tanto o pensamento da alteridade para além da ontologia como o advento de outra ontologia presidida pela ética e, não ao contrário, como ensina Heidegger. E, assegura Adriano Maslowski, por meio de sua abordagem filosófica em torno da inauguração da temporalidade outramente que Ser de outrem, ser possível revisitar as diversas figuras de alteridade que surgem ao longo da obra de Levinas tais como: o tempo do filho, do feminino, o tempo do Rosto, do Próximo e o tempo do Terceiro etc., a partir das quais o tempo fora do ser passa a ser identificado como uma temporalidade real-ética do amor ao outro e da justiça ao terceiro. Portanto, estas figuras exploradas pelo jovem filósofo brasileiro permitirão ao leitor de poder reconstituir uma espécie de mosaico a respeito da alteridade, do tempo e do ser de outro modo, propugnado pela vasta escritura levinasiana. Em última instância, seguindo essa ótica, o leitor em contato com a obra de Adriano se vê radicalmente interpelado a ter de se repensar [a si mesmo] enquanto uma autêntica subjetividade ética em função do tempo do corpo/signo/sensibilidade outramente que ser que, por sua vez se cumpre no cuidado do Bem do outro ou no dom de si pelo Bem que é outrem”. 

Link: Link de acesso ao livro (Editora Ilustração): https://editorailustracao.com.br/livro/evasao-como-renovacao-do-problema-do-ser