24/05/2019

"A Metafisica dos Costumes: a autonomia para o ser humano" Diego Kosbiau Trevisan

KANT

"A Metafisica dos Costumes: a autonomia para o ser humano"Diego Kosbiau Trevisan

 

286 páginas

ISBN 7988594591609

Muitos livros têm como adversário uma figura ao mesmo tempo presente e ausente, um interlocutor não enunciado de forma explícita, mas cujas provocações e indagações podem ser notadas nas entrelinhas e mesmo naquela “ideia do todo” que anima a obra. O livro de Diego Kosbiau Trevisan pode ser, ao menos inicialmente, lido dessa forma. Embora não confesse explicitamente, Diego Kosbiau Trevisan responde a um desafio colocado por Gérard Lebrun – autor importante em sua formação no Departamento de Filosofia da USP – em seu clássico Kant e o Fim da Metafísica. Lemos no famoso capítulo 10, sobre a reflexão como método da filosofia: “não haverá metafísica de Kant. Como se a crítica devorasse o projeto que a tinha suscitado, à medida que o autor refletia sobre sua essência”. Não cabe, nessa apresentação, reconstruir toda a engenhosa interpretação de Lebrun; porém, de modo muito grosseiro, podemos ao menos resumi-la da seguinte maneira: a filosofia crítica representa o triunfo da reflexão na história da filosofia; a partir de Kant a filosofia perde seus objetos e passa a refletir sobre si e seus fundamentos, ela nos mostra não mais apenas como podemos conhecer, mas sobretudo como podemos pensar. Como continua Lebrun, “não é tão fácil voltar a ser metafísico depois de ter escrito a 'metafísica da metafísica', retomar a obra dogmática depois de ter refletido”. O livro de Diego Kosbiau Trevisan pode ser lido à luz dessa provocação de Lebrun: ora, se não há mais metafísica em Kant, como então dedicar tantas páginas à Metafísica dos Costumes? Não seria isso um retorno ao “dogmatismo” da filosofia pré-kantiana e a rejeição daquilo que constituiria o que há de novo em Kant? A resposta de Diego Kosbiau Trevisan é oblíqua e, talvez justamente por isso, engenhosa: a dicotomia Crítica-Metafísica de Lebrun é enganosa, há, sim, uma metafísica em Kant. E mais: seria essa metafísica não-dogmática que, talvez mais do que em outras partes da filosofia de Kant (como, por exemplo, na obra que guia a interpretação de Lebrun, a Crítica da Faculdade de Julgar), mostra-nos justamente o método “reflexivo” ou “aporético” de Kant ao acolher a tradição filosófica e o modo como ele próprio havia retrabalhado e “pensado” esse material sob as novas bases críticas. Com o mérito – seguimos o autor – de com isso fazer justiça ao motivo moral que, desde o princípio, animaria toda filosofia de Kant.

Ricardo Terra

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