13/05/2025

v. 5 n. 8 (2025): REFLEXÕES ANARQUISTAS E DECOLONIAIS NA CONSTRUÇÃO DE RESISTÊNCIAS

Rio de Janeiro

Caros leitores, pesquisadoras e pesquisadores,

É com grande satisfação que apresentamos mais uma edição da Revista Estudos Anarquistas e Decoloniais, trazendo reflexões profundas e críticas sobre temas essenciais para a compreensão das estruturas de poder, exclusão e resistência no mundo contemporâneo.

Nesta edição, reunimos uma seleção de artigos que abordam racismo institucional, decolonialidade, epistemologias contra-hegemônicas, municipalismo libertário e ecologia social, entre outros temas fundamentais para quem busca repensar a sociedade a partir de perspectivas insurgentes. Com um compromisso contínuo com o pensamento crítico, os textos aqui apresentados não apenas desafiam as narrativas dominantes, mas também ampliam o horizonte de luta por equidade e justiça.

A presente edição apresenta a pesquisa de Catarina dos Santos Vitorino de Oliveira e Mariana de Sá Alcantara GomesA Inacessibilidade de um Currículo Embranquecido na Formação de Alunados Negros: Perspectiva de Crianças e Jovens em Idade Escolar do Projeto Esperançar, que traz uma reflexão urgente e necessária sobre a inacessibilidade de um currículo eurocentrado para estudantes negros. O artigo investiga como a ausência de epistemologias negras nos espaços educacionais contribui para o apagamento histórico e simbólico de saberes fundamentais, refletindo diretamente na formação das novas gerações.

Já o artigo Formação Antirracista: Reflexões para Descolonizar os Currículos das Graduações do Campo da Saúde, de Camille Correia Santos, aborda a urgência de uma formação antirracista na área da saúde, destacando como a estrutura acadêmica perpetua desigualdades ao manter currículos eurocentrados que invisibilizam conhecimentos afro-brasileiros e indígenas. A autora apresenta um panorama dos desafios enfrentados por estudantes negros no ensino superior e questiona a ausência de conteúdos sobre raça e racismo nos cursos de saúde, evidenciando a necessidade de uma transformação curricular alinhada às epistemologias decoloniais.

Em A Morte e a Morte de Quincas Berro D’Água: Uma Crítica ao Cânone FilosóficoPedro Bisneto explora a relação entre filosofia e morte, desafiando a tradicional aproximação entre filosofia e vida. A partir de reflexões pessoais e experiências marcadas pelo temor da finitude, o autor propõe uma crítica ao cânone filosófico, questionando as narrativas que vinculam a filosofia exclusivamente à dignidade humana e à vida. Com uma abordagem profundamente pessoal e filosófica, o texto convida o leitor a repensar os limites e as contradições da filosofia frente à morte.

No artigo O Pensamento de Murray Bookchin e a Trajetória do Povo Curdo: A Ecologia Social e o Municipalismo Libertário na Visão de Abdullah Öcalan e Seu Legado na Região Autônoma de Rojava – CurdistãoRoberto Medeiros investiga a influência das ideias de Murray Bookchin no pensamento e na atuação política de Abdullah Öcalan, destacando como os conceitos de ecologia social e municipalismo libertário moldaram o projeto político curdo na Região Autônoma de Rojava. A partir da análise do Confederalismo Democrático, o autor explora o impacto das teorias de Bookchin na resistência curda e na construção de alternativas ao Estado-nação, evidenciando um modelo autônomo baseado na democracia radical e na sustentabilidade.

Em A Gente Aparece nas Histórias que Conta: Narrativas e Potência DescolonialJulia Bardi reflete sobre a importância da narrativa e da oralidade como caminhos para a construção de epistemologias alternativas ao eurocentrismo. A autora argumenta que os relatos históricos não são universais e destaca a necessidade de reconhecer referenciais e experiências marginalizadas, ampliando as possibilidades de representação e existência. Com base no pensamento decolonial e na Pedagogia da Mãe Terra de Abadio Green, o texto propõe uma crítica à colonialidade do saber, mostrando como a oralidade pode resgatar memórias e fortalecer identidades.

Em O Racismo na Sala de Aula e a Lei 11.645/2008Tiago Nicolau da Silva investiga como o racismo estrutural se manifesta no ambiente escolar e a importância de sua abordagem para transformar a educação em um espaço verdadeiramente inclusivo. A partir da análise da Lei 11.645/2008, que determina o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena, o autor questiona a persistente exclusão dos saberes negros nos currículos escolares, destacando a urgência de um giro epistemológico para promover a valorização de narrativas historicamente silenciadas.

Já em A (Des)umanização do Corpo Negro: Saúde e Discussões Étnico-RaciaisAna Carolina dos Santos da Silva examina a histórica desumanização do corpo negro, enfatizando como o racismo estrutural molda o acesso à saúde e perpetua desigualdades. A pesquisa destaca o apagamento dos saberes negros, o impacto do racismo institucional e os traumas intergeracionais que afetam o bem-estar da população negra. Além disso, discute racismo ambiental, saúde reprodutiva e epistemologias decoloniais, sugerindo caminhos para um sistema de saúde antirracista. A análise busca ampliar o debate sobre equidade e justiça na saúde pública, promovendo conscientização e mudanças estruturais.

Em Existir e Resistir: A Historicidade da “Améfrica Ladina” nos CurrículosLucas Lentini explora as heranças da colonialidade e como elas moldaram os currículos educativos, perpetuando valores eurocêntricos, patriarcais e cristãos-ocidentais. O autor analisa a construção histórica do conceito de raça e sua relação com a modernidade, destacando como a colonização impôs narrativas hegemônicas que apagaram o protagonismo das minorias. O texto propõe a desconstrução desses paradigmas por meio da história cultural, repensando os currículos para incluir perspectivas de resistência e diversidade, especialmente no contexto da Améfrica Ladina.

Nesta tradução do texto de Leda RafanelliContra a Escola, realizada por Caio Cursini, somos conduzidos a uma crítica contundente ao papel da escola como instrumento de reprodução ideológica e controle social. A autora questiona como o ensino obrigatório molda mentalidades desde a infância, reforçando valores da classe dominante e apagando visões críticas e progressistas. Rafanelli propõe que, em vez de reformar as instituições educacionais, é preciso pensar a formação de indivíduos livres e rebeldes, longe das estruturas que perpetuam desigualdades e dogmas.

Esta edição conta com a valiosa contribuição de autoras e autores comprometidos com a crítica ao sistema vigente—racista e sexista—e com a construção de novas possibilidades de existência e convivência.

 

Pamela Cristina de Gois

Boa leitura e resistência!

 

Atenciosamente, Equipe da Revista Estudos Anarquistas e Decoloniais

Publicado: 2025-04-19

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