12/07/2023

No último dia 12/06 faleceu o político italiano Silvio Berlusconi, cuja trajetória foi profundamente marcada por um contexto político, social e discursivo que mesclou, entre outras características, um sentimento generalizado de repúdio com a classe política, uma inegável proximidade com a extrema direita e também a expectativa popular da ascensão de um homem íntegro, não contaminado pelo sistema corrupto da política tradicional, que tomaria o poder para colocar o país “no rumo certo”.

A ascensão de Berlusconi ao poder se deu como uma consequência direta da operação mãos limpas, na qual a justiça italiana fez amplo emprego da grande mídia para influenciar diretamente a opinião pública e as sentenças dos magistrados, criando uma imagem fictícia de que os procuradores estariam engajados numa cruzada épica e heroica contra a corrupção, cujo objetivo maior seria o de limpar o país da velha classe política, a qual estaria corrompida até a raiz. A continuidade deste legado político na Itália é visível até hoje na figura da atual primeira-ministra Giorgia Meloni, a qual é considerada por grande parte da opinião pública como representante da extrema direita.

O caso italiano não é isolado. A recente ascensão política de Donald Trump nos EUA e Jair Bolsonaro no Brasil, entre outros casos ao redor do mundo, mostra que o enfraquecimento das democracias acaba inevitavelmente abrindo espaço para a ascensão de figuras extremistas e populistas.

Os acontecimentos imediatamente subsequentes às respectivas derrotas políticas de Trump e de Bolsonaro em suas reeleições — marcados pela violência, depredação do patrimônio público e ameaças aos estados de direito — bem como os contextos de polarização política radical evidente nesses países, mostram de forma inegável que a ameaça representada por esses extremismos políticos não se esgotou com a derrota nas urnas, mas permanece mais viva e forte do que nunca, sendo continuamente reforçada pelo amplo emprego das mídias sociais como instrumentos de propagação de discursos claramente antidemocráticos. A necessidade de refletir sobre a democracia torna-se mais premente do que nunca.

É justamente diante deste contexto que o Núcleo de Estudos sobre Violência, Democracia e Direitos Humanos vem a público convidar os pesquisadores(as) interessados(as) a contribuírem com o livro Democracia e seus outros, uma publicação planejada especificamente para oferecer contribuições teóricas originais que tratem da democracia a partir de uma perspectiva ampla e interdisciplinar.

O núcleo estará recebendo trabalhos até o dia 30 de setembro de 2023 na forma de capítulos inéditos que integrarão o volume, cuja publicação está prevista para novembro de 2023.

As normas para o envio dos textos seguem:

Textos em português, espanhol, inglês, francês e italiano.

Nº de páginas: entre 10 e 25 laudas

Autores: Todos os autores deverão, obrigatoriamente, informar na página inicial do capítulo seu número de registro no ORCID (Open Researcher and Contributor ID – https://orcid.org/), bem como nomes completos, titulação e filiação institucional.

E-mail para envio dos textos: Prof. Dr. João Paulo Simões Vilas Bôas – vilas.boas@ufabc.edu.br

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