Boletim Especial - Ensino de Filosofia: Por uma cidadania filosófica do campo
BOLETIM ANPOF - ESPECIAL
Saudações a todas e todos.
Confiram o novo boletim da
ANPOF 03/11/2021!
No contexto pós-reformas educacionais, notadamente a lei nº 13.415/2017 e a Base Nacional Comum Curricular (BNCC), quais são as perspectivas do ensino da Filosofia na última etapa da educação básica? Que ações têm sido feitas para um ensino efetivamente significativo de Filosofia? Em que medida as pesquisas realizadas na pós-graduação brasileira permitem atestarmos a existência de um campo filosófico autônomo intitulado Filosofia do Ensino de Filosofia?
No mês de outubro de 2021, o Ensino de Filosofia foi pauta da ANPOF, instigando a comunidade filosófica a debater temáticas e ações que são caras à área.
Colegas do GT Filosofar e Ensinar a Filosofar e seus convidados e convidadas disponibilizaram à ANPOF 10 colunas. As publicações foram abertas com a atualíssima discussão sobre a situação do Ensino de Filosofia na conjuntura política que vivemos, cerne do texto de Christian Lindberg (UFS). Também a partir da perspectiva do contexto político, Deodato da Costa, Pedro Rodolfo da Silva e Valcicléia da Costa (UFAM) refletiram sobre formação docente e ensino de filosofia. Já Felipe Pinto e Taís Pereira (CEFET-RJ) compartilharam pesquisas que há tempos vêm desenvolvendo sobre a produção educacional na área de Filosofia. A produção de material didático pedagógico para a Filosofia a partir do filosofar com jogos foi a temática escolhida por Angela Cilento (UPM) e Pedro Gontijo (UnB). Marinês Barbosa de Oliveira (CEFET-MG), por sua vez, debateu a avaliação da aprendizagem de Filosofia na Educação Básica. O ensino não-formal de filosofias também constou de nossas publicações, fruto da escrita de Renata Aspis (UFMG). Trouxemos à baila, igualmente, o filosofar com crianças e a educação filosófica a partir da experiência de Edna da Cunha (NEFI/UERJ) com o projeto “Em Caxias, a filosofia en-caixa? A escola pública aposta no pensamento”. Acompanhamos o olhar de Marcio Nicodemos (DIESP/SEEDUC-RJ) diante e entre as dobras da prisão, perguntando, com ele, “o que pode um professor de filosofia na prisão?”. Viajamos com Lara Sayão e Daniel Gaivota (SEEDUC/RJ; NEFI/UERJ) pela “popular, inquieta, materialista, macumbeira, coletiva, amorosa, pobre, vagabunda, vadia...” filosofia vivenciada na Olimpíada de Filosofia do Rio de Janeiro, voltando ao olhar político sobre o filosofar e o ensinar a filosofar no Brasil hoje no derradeiro texto, assinado por Joana Tolentino (Colégio Pedro II).
Além das colunas, fomentamos o fórum de debate sobre o cânone filosófico institucionalizado, iniciado pelo diretor de comunicação da ANPOF Érico Andrade (UFPE). Enquanto Rodrigo Marcos de Jesus (UFMT) recuperou a herança historiográfica para atentar às dimensões raciais, sexistas e eurocêntricas incrustadas no cânone, Patrícia Velasco (UFABC) apontou, com números, para a existência de um campo de pesquisa de pós-graduação intitulado Filosofia do Ensino de Filosofia. Na esteira de Velasco, Rodrigo Gelamo e Augusto Rodrigues (UNESP) não só defenderam a criação do referido campo de conhecimento profissional autônomo, como também reivindicaram uma cidadania-filosófica deste campo, “o que inclui não só as questões de financiamento para desenvolvimento das pesquisas, mas também o questionamento dos pressupostos e práticas hegemônicas que qualificam a legitimidade do que é ou não filosófico”.
A discussão sobre a cidadania filosófica da Filosofia do Ensino de Filosofia também foi abordada na roda de conversa “Ensino de Filosofia como campo de conhecimento: revendo o cânone filosófico”, da qual participaram Patrícia Velasco (UFABC/ANPOF), Paulo Margutti Pinto (FAJE) e Silvio Gallo (UNICAMP). “Em que medida o Ensino de Filosofia se constitui como um diferencial das pesquisas de pós-graduação realizadas no Brasil?” e “estaria a comunidade da ANPOF disposta a dar cidadania filosófica ao Ensino de Filosofia, revendo o cânone?” foram algumas das perguntas debatidas pela mesa.
Outras duas rodas de conversa foram transmitidas ao vivo pelo canal do YouTube da ANPOF. Na primeira, intitulada “A Filosofia no contexto do Novo Ensino Médio” e sob a mediação de Christian Lindberg (UFS), André La Salvia (UFABC), Marinês Oliveira (CEFET-MG) e Pedro Gontijo (UnB) debateram a (não)presença da Filosofia no contexto da lei nº 13.415/2017, da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD). Na segunda mesa, Walter Kohan (UERJ) conduziu a conversa com o homenageado Marcos Antonio Lorieri, percorrendo a constituição da área de Ensino de Filosofia no Brasil a partir de memórias da trajetória pessoal e acadêmica do próprio Lorieri. A mesa contou também com a participação especialíssima de Elisete Tomazetti (UFSM), oferecendo um belíssimo texto de abertura para a ocasião.
Até o fechamento desta edição do Boletim ANPOF – Especial, as conversas sobre Ensino de Filosofia tinham sido visualizadas por mais de duas mil e novecentas pessoas. Cabe notar ainda que, durante as transmissões, 21 (AL, AM, BA, CE, ES, GO, MA, MT, MG, PB, PR, PE, PI, RJ, RN, RS, SC, SP, SE, TO e DF) dos 27 estados brasileiros estiveram representados nos chats.
No mês dedicado ao Ensino de Filosofia, não poderia faltar a pergunta: “Quem são as mestras e mestres que nos formam filósofas/os e docentes de filosofia?”. Ciente de que a história destas mestras e mestres se entrelaçam com a trajetória da presença-ausência da Filosofia nas escolas e nas universidades, Joana Tolentino (Colégio Pedro II) entrevistou, com reverência e afeto, Maria Lucia de Arruda Aranha (professora aposentada, autora de livros didáticos) e Edgar Lyra (PUC/RJ). Com o mesmo carinho e admiração, Lara Sayão (NEFI/UERJ - SEEDUC/RJ) e André Pares (SMED/POA) conduziram a entrevista com Maurício Langón (professor e inspetor de Filosofia de Educação Secundária/Uruguai), intitulada “Olimpíadas de Filosofia e formação do pensamento filosófico”. Por fim, Antonio Edmilson Paschoal (UFPR) e Taís Silva Pereira (CEFET/RJ) foram entrevistados por Maria Cristina Theobaldo (UFMT). A pauta? O Ensino de Filosofia nos programas de pós-graduação profissionais da área – o PROF-FILO e o PPFEN/CEFET-RJ.
Fechando as atividades do mês, Felipe Pinto (CEFET-RJ) e Marcelo Guimarães (UNIRIO), responsáveis pelo Pensatório e pela Rádio Murucututu, convidaram os/as professores/as Janyne Sattler e Maurício Cossio (podcast Uma filósofa por Mês), José Teixeira Neto (Falando por você), Debora Fofano (Perdidos na Paralaxe), Douglas Lopes e Márcio Jarek (Hiperbólico) para uma produção coletiva: um “metapodcast” sobre os atravessamentos entre ensino de filosofia e divulgação filosófica a partir das diferentes experiências de podcasting. Ainda não ouviu? Clique aqui.
Com minha curadoria (Patrícia Velasco (UFABC/ANPOF) e de Lara Sayão (NEFI/UERJ - SEEDUC/RJ), o mês “Ensino de Filosofia: por uma cidadania filosófica do campo” foi uma iniciativa do GT Filosofar e Ensinar a Filosofar, em comemoração aos 15 anos de pesquisa e consolidação do grupo. Agradecemos a expressiva participação da comunidade filosófica nas atividades de outubro e deixamos o convite para que continuem acessando os conteúdos deste mês especial dedicado ao Ensino de Filosofia, de modo que possamos continuar pautando e dialogando sobre o filosofar e o ensinar a filosofar.
Findas as atividades de outubro, o GT Filosofar e Ensinar a Filosofar – com o respaldo da diretoria da ANPOF para o biênio 2021-2022 – divulgará uma carta-manifesto junto à comunidade filosófica, na qual defenderá a cidadania filosófica para a subárea Filosofia do Ensino de Filosofia. Convidamos, desde já, a todas e a todos que reconhecem as pesquisas e demais produções que têm o Ensino de Filosofia como objeto e problema filosófico a subscreverem e compartilharem com os pares a referida carta.
Abraço,
Patrícia Velasco