Carta-manifesto de apresentação da Rede Brasileira de Filósofes Trans
Rede Brasileira de Filósofes Trans
24/01/2025 • Coluna ANPOF
A Rede Brasileira de Filósofes Trans[1] emerge no intuito coletivo de fortalecer, ampliar e celebrar o conhecimento desenvolvido por pessoas trans na filosofia. Existimos nos espaços institucionais de produção de conhecimento, somos estudantes nas graduações de Filosofia e em processos de pesquisa acadêmica nos programas de pós-graduação; somos docentes nas instituições de ensino básico, ensino superior e cursos livres sobre temas na Filosofia. Foi durante o XX Encontro da Anpof (ocorrido em outubro de 2024, no Recife) que iniciamos a mobilização para a construção desta rede, movides pelo desejo coletivo de encontrar as nossas pessoas na comunidade filosófica e, assim, formularmos coletivamente a presença, permanência e intervenção de pessoas trans em todas as áreas e frentes de atuação profissional da formação em filosofia.
Nos departamentos de Filosofia das universidades brasileiras, buscamos espaços de diálogo, acolhimento, enfrentamento e produção intelectual. Seja nas áreas que percorrem a história da filosofia, da antiguidade à contemporaneidade; seja nas áreas temáticas (estética, lógica, teoria do conhecimento, filosofia da linguagem, filosofia política, filosofia e raça, filosofia e gênero, possíveis interdisciplinaridades, etc.) ou nas práticas de ensino, a filosofia formulada e praticada por pessoas trans é realidade nos territórios. É uma realidade que não se restringe a temas circunscritos nas teorias de gênero, embora nelas também predique. Por meio desse coletivo, buscamos uma futuridade no fazer filosofia, tanto discutindo políticas afirmativas e de permanência para filósofes trans, travestis e não-bináries, como buscando firmar na comunidade filosófica as práticas, as teorias filosóficas e as epistemologias produzidas por pessoas trans.
Temos como alguns dos focos iniciais e intermitentes a defesa de cotas trans em cursos de graduação, programas de pós-graduação em Filosofia e concursos de cargos de atuação docente nos ensinos básicos e superiores; a defesa de políticas de permanência e o combate à formas de discriminação, especialmente de violência institucional; a permanência de pessoas e a observação de casos de transfobia em cursos e programas de Filosofia, e em posições de atuação no ensino; além de elaboração de instruções e vigilância sobre o cumprimento das políticas de cotas trans nesses espaços. Desejamos construir coletivamente um campo filosófico que faça jus à diversidade do que é ser humane. Para isso, torna-se necessário lutar contra violências acadêmicas e institucionais, formando uma coletividade engajada na promoção dessa pluralidade.
Iniciamos partilhando desejos em comum entre uma rede afetiva de pessoas que sentem em seus respectivos territórios os desafios políticos de existir e enfrentar pressupostos epistemológicos da ordem cis normativa, europeizada e branca dos ambientes de produção acadêmica e práticas de ensino. Entendemos que somos muites mais pessoas trans, travestis e não-bináries ocupando espaços em cursos de Graduação, Pós-Graduação, já formadas e atuantes ou não na área. Um de nossos primeiros passos será buscar mapear nossas pessoas nestes espaços, para termos uma visão ampla sobre nossa situação na academia e fora dela e, principalmente, para que possamos nos organizar e nos mobilizar como filósofes em rede de circulação do conhecimento produzido por nós, além do acolhimento e proteção das nossas existências na comunidade filosófica.
Convidamos todes es filosófes para, em apoio, construirmos um campo filosófico que contemple a pluralidade das nossas existências, capaz de lutar contra violências acadêmicas e institucionais. E para todes es filósofes trans, travestis e não-bináries que desejarem somar-se à Rede Brasileira de Filósofes Trans (em graduações, pós-graduações, salas de aula e em espaços de atuação da formação e formulação filosóficas), sintam-se à vontade para entrar em contato pelos canais no e-mail redebrasileiradefilosofestrans@gmail.com ou pelo perfil no instagram @redebrasileiradefilosofestrans.
Além dos canais de contato, ressaltamos a circulação do formulário que organizamos para mapearmos nossas pessoas nos territórios, universidades e instituições de ensino, além de ter como compromisso entrarmos em contato com todes aquelus que manifestarem desejo de se somar à rede, deixando no formulário seus canais de contato (email e/ou número de telefone com whatsapp). O formulário está disponível aqui.
Nós, filósofes trans, travestis e não-bináries faremos existir as nossas filosofias, honrando as existências que vieram antes de nós, nos caminhos da Filosofia acadêmica e das práticas de ensino de Filosofia. Nós já estamos nos encontrando e sabemos que é apenas uma questão de tempo para que nossa coletividade firme políticas de acesso e permanência para nossas pessoas e, ao mesmo tempo, um conjunto de saberes de transformação estrutural dos espaços de poder-saber filosóficos.
Nota
[1] Texto publicado originalmente no site da Rede Brasileira de Filósofes Trans
A Coluna Anpof é um espaço democrático de expressão filosófica. Seus textos não representam necessariamente o posicionamento institucional.