Especial 8M - Feminismo Negro Brasileiro e Ensino de Filosofia: Reflexões sobre a invisibilidade das pensadoras negras brasileiras no ensino de filosofia
Elizangela Alves Sousa Marques
Mestranda em Filosofia na UFMT
11/03/2025 • Coluna ANPOF
As reflexões orientadoras para a construção desse texto surgem a partir da minha experiência enquanto professora de Filosofia do Ensino Médio da rede pública de ensino do Estado de Mato Grosso. Na sala de aula sou comumente indagada pelos estudantes sobre a existência de pensadoras negras brasileiras e por que elas não são citadas nos livros ou materiais didáticos. Diante disso, se faz necessário revisar e atualizar práticas para uma educação antirracista. Desse modo, considero relevante trazer perguntas que mobilizem reflexões no ensino de Filosofia.
Nesse sentido, é pertinente questionar: Como a Filosofia pode contribuir para a Educação das relações étnico-raciais no Ensino Médio? Existe espaço em nossos currículos para um pensar orientado por cosmovisões afro-brasileiras e africanas? Existe espaço nas escolas para a construção de saberes interculturais? Como recontar a história da Filosofia em sala de aula? É possível um ensino de filosofia fora do padrão eurocêntrico? Como as filosofias não-brancas podem contribuir para a construção e experiência de novos percursos filosóficos?
Juliana Pacheco (2015), em sua obra, “Mulher e Filosofia: As relações de gênero no pensamento filosófico”, observa:
“Não há como modificar a invisibilidade sofrida pelas mulheres no passado, mas para que não permaneçam invisíveis no presente e nem no futuro, é necessário questionarmos e ao menos fazê-las visíveis no agora da Filosofia”. (PACHECO, 2015, p. 30)
Considerando a afirmação da filósofa, entendemos que o estudo da temática gênero, contribuirá para a discussão com maior amplitude e menos discriminação do papel dessas pensadoras no ensino de Filosofia, na medida que valoriza a contribuição dessas teóricas para ampliação do pensamento feminista brasileiro.
Por que trabalhar a temática Feminismo Negro Brasileiro no currículo escolar? Não é raro ouvirmos que a disciplina de filosofia sempre esteve voltada para a ação/atuação dos homens nos diferentes períodos históricos, o que demonstra que o “sujeito universal” representado pela História da Filosofia, durante muito tempo, foi o masculino. Trata-se, evidentemente, de um desdobramento da hierarquia de gênero presente em nossa sociedade e da injustiça epistêmica que dela decorre. Ressalte-se que isso tem impacto direto na construção da filosofia como um espaço masculino. Também é necessário apontar que, apesar da construção da filosofia como uma área de saber majoritariamente masculina, várias mulheres contribuíram para a área, muitas vezes sem ter o devido reconhecimento.
Busca-se, então, aliar o conhecimento majoritariamente acadêmico e a prospecção de fontes à prática docente, traduzindo-o em linguagem acessível e possível de ser utilizada em sala de aula, tentando diminuir o enorme distanciamento que existe entre a produção desenvolvida na Academia e a refletida em ambiente escolar, transposta pelas/os professoras/es de Filosofia.
Ao observar o material do componente curricular de Filosofia do Sistema Estruturado de Ensino utilizado atualmente na rede estadual, adotado pela Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso em parceria com a Fundação Getúlio Vargas, verifica-se que não há lugar de destaque para as pensadoras, implicando a visão errônea entre os estudantes de que a Filosofia é realizada apenas por homens. Devemos concordar que seguir reproduzindo histórias da filosofia sem mulheres contribui para a crença geral de que elas não existiram ou não foram relevantes e que, portanto, o desafio é buscar contar outras histórias.
O presente texto busca refletir sobre a importância de uma proposta de ensino de filosofia a partir de pensadoras negras brasileiras. Além disso, incluir mulheres e tematizar sua inclusão/exclusão pode ser um caminho interessante a explorar em sala de aula de maneira a pensar criticamente a desigualdade e seus desdobramentos, o mais perverso deles sendo a violência de gênero.
Para tratar das problemáticas relacionadas à questão de escrever sobre Feminismo Negro Brasileiro e as formas como às mulheres pensadoras negras brasileiras foram durante muito tempo, e ainda são retratadas na História da Filosofia, é importante que se leve em consideração as obras e discussões desenvolvidas por aquelas que são consideradas pioneiras no assunto, como: Lélia Gonzalez, Sueli Carneiro , Beatriz Nascimento e Djamila Ribeiro, que irão discorrer sobre os por quês e as dificuldades que surgem quando se propõem a escrever uma história das mulheres pensadoras negras brasileiras. Diante disso, devemos ampliar as possibilidades de estudos que ajudem a reescrever a história da filosofia, inserindo pensadoras negras brasileiras e seus legados. Dessa forma a ideia de uma educação que reconhece e valoriza mulheres intelectuais negras brasileiras, contribui para eliminar o racismo em sala de aula, abolindo práticas docentes que por vezes reforçam a inferiorização da mulher negra. A abordagem de temáticas antirracistas e feministas ao ensino de Filosofia ainda se compreende como um desafio. Reafirmar espaços educacionais é fundamental e urgente para a construção de uma escola plural e inclusiva.
Referências
AMORIN, Maria de Fátima. Formação Geral Básica: Ensino Médio: Filosofia: Caderno 01, 02, 03, 04 - 3º ano, aluno. 1ª ed. São Paulo: Somos Sistemas de Ensino, 2020, Pitágoras.
NOGUERA, Renato. O ensino de filosofia e a lei 10.639. Rio de Janeiro: Pallas; Biblioteca Nacional, 2014.
PACHECO, Juliana. Mulher e Filosofia: As relações de gênero no pensamento filosófico. Porto Alegre: FI, 2015.
RIBEIRO, Djamila. Quem tem medo do feminismo negro? São Paulo: Companhia das Letras, 2018.