Filosofia e prática do Taijiquán (Tai Chi Chuan) | Especial XX Anpof

José Benedito de Almeida Júnior

Professor do Instituto e do Programa de Pós-Graduação em Filosofia, da Universidade Federal de Uberlândia

08/08/2024 • Coluna ANPOF

O objetivo deste minicurso é a vivência da prática e da filosofia do Taijiquán.
Ao longo dos três dias, vamos estudar a filosofia do Taijiquán e alguns dos movimentos do Taijiquán.
Vamos trabalhar o Taijiquán a partir de duas definições: como meditação em movimento e como arte corporal.

Meditação em movimento

O Taijiquán pode ser definido como uma “meditação em movimento”, pois sua prática não se resume a buscar saúde física, mas também mental e a integração com a natureza. Portanto, praticantes de Taijiquán melhoram suas condições físicas e mentais uma vez que promovem a circulação da energia vital qi (chi). Considera-se que temos três centros de energia principal, os chamados três tesouros, o jing, o chi e o sheng. O primeiro, situa-se na região pélvica e está relacionado à energia da terra; o segundo, é onde temos a fonte da energia vital qi propriamente dito, na região do diafragma; por fim, o centro de energia sheng, situa-se na região da cabeça e está relacionado com a nossa mente. Portanto, o objetivo é circular o qi pelo corpo, conforme diz o poema tradicional:

Acumule Shen para promover Chi.
Acumule Chi para promover Jing.
Refine Jing até que se transforme em Chi.
Refine Chi em Shen;
Refine Shen até a Vacuidade.
Este é o modo de fortalecer, enriquecer e aumentar
O Jing, o Chi e o Shen no corpo. (DE LAZZARI, 2017, p. 52)

Arte corporal

O Taijiquán também pode ser definido como arte corporal. Ele nasceu como arte marcial efetivamente. Na tradição de Wudang (século 14 EC), na tradição do estilo Chen (século 16 EC) e no estilo Yang, século 18, era praticado para treinamento de combate. O estilo Yang era conhecido por ter movimentos mais suaves e contínuos do que os estilos anteriores, e isto se acentua a partir desde o século XX, com Yang-Cheng Fu, mestre da terceira geração, e se torna uma arte corporal com objetivos mais terapêuticos do que marciais. Ainda que os movimentos sejam simulações de combate, hoje não se utiliza para fins marciais.

Numa entrevista, o mestre Liu Pai Lin define o Taijiquán: “É uma prática para a longevidade e do sentimento de amor, pois segue a energia da natureza. O que o torna uma prática do Tao, e o Tao é o “chi” ou energia vital. Existe na natureza uma energia criativa. Dois sopros distintos, o yin e o yang, que num movimento pulsante, se unem fazendo surgir todas as coisas na natureza, inclusive o ser humano.”

O Taijiquán, hoje, é praticado como os qigong ou exercícios terapêuticos, portanto, os praticantes buscam nesta arte a saúde física e mental e não técnicas de combate.

Filosofar a partir do corpo/corporeidade

Existem muitas filosofias subjacentes à prática do Taijiquán. As duas correntes principais são a do budismo e a do taoísmo, sendo que esta última é a adotada por nós neste minicurso. Os conceitos fundamentais para as oficinas serão: o dao (tao), os dois sopros: yin e yang, e a noção de energia vital, o qi. O poema a seguir, fundamenta estes conteúdos:

O tao flui sem cessar. No entanto, na sua atuação, ele jamais transborda. Ele é um abismo; parece o ancestral de todas as coisas. Abranda a sua dureza. Desata os seus nós. Modera o seu brilho. Une-se com a sua poeira. Não sei de quem possa ele ser filho. Parece ser anterior a Deus. (Tao Te King, 1978, poema IV).

Fluir sem cessar é uma das grandes características do Taijiquán, especialmente do estilo Yang. O encadeamento dos movimentos forma um fluxo contínuo. Este fluxo só é possível pela constante troca de energia de “cheio e vazio” ou de “yang e yin”, para termos movimento, é preciso que uma perna esteja cheia de energia, sustentando o corpo e a outra movimentar-se livremente.

Enfim, sintam-se bem-vindas, bem-vindos e bem-vindes ao minicurso, será uma honra compartilhar este tempo com vocês.

Será fornecida uma apostila com breves registro destes conteúdos e movimentos trabalhados ao longo do minicurso


Referências

DE LAZZARI, Fernando. Tai Chi Chuan: saúde e equilíbrio. Ribeirão Preto: Edição do Autor, 3ª edição, 2017.

LAO-TZU. Tao te king: o livro do sentido e da vida. Tradução e comentários Richard Wilhelm. Tradução para o português: Margit Martincic. São Paulo: Editora Pensamento, 1978.


O minicurso "Filosofia e prática do Taijiquán (Tai Chi Chuan)" será ministrado pelo professor Dr. José Benedito de Almeida Júnior (UFU), integrando a programação do GT Filosofar e Ensinar a Filosofar no XX Encontro Anpof, em Recife/PE. As inscrições estarão abertas às pessoas já inscritas no evento a partir do dia 15 de agosto.