O existir das emoções humanas no Pragmatismo

Miriam Barreto

Profa. Filosofia (Uneb) e doutoranda em Filosofia (Unisinos)

21/02/2022 • Coluna ANPOF

As expressões humanas observadas e descritas por estudiosos na área da Biologia, da Neurociência, da Psicologia, da Fisiologia, desencadeiam discussões, possibilitando desenvolver espiral sobre cada aspecto, “fundamentais ou básicas”. Charles Darwin (1809 - 1882) trouxe muitas mudanças para a História da Biologia e, em acréscimo, para outros estudos das áreas que trabalham o bio, a psique, e o comportamento humano. Darwin (2009) descreve as emoções em três princípios gerais da expressão: O primeiro classifica como “princípio dos hábitos associados úteis”; o segundo princípio, o “princípio da antítese”; e o terceiro “princípio é das ações devidas à constituição do sistema nervoso”. Os princípios apresentados por Darwin (2009) passam, muitas vezes, pela força do hábito, o sem menor esforço da consciência humana, como nas caretas involuntárias, realizadas sem o indivíduo nem perceber que esta forma fisionômica ocorre. Já nos muitos movimentos expressivos, relacionados ao princípio da antítese (segundo princípio), o autor aponta como sendo hereditário. E, no caso do terceiro apresenta um exemplo, ocorrido na Índia, de um homem que iria ser executado, e cuja mudança de cor do cabelo, de tão rápida, foi perceptível a olhos vistos. 

Com efeito, as emoções têm múltiplas aparências, mas como aponta Stephen, Walter e Wilutzky (2015, p. 200) “é óbvio que processos extracorpóreos desempenham papel funcional de avaliações internas”. Os autores ilustram um exemplo da “aranha no muro como perigosa”, e dizem que as crenças são acionadas em situações de riscos, influenciando o comportamento e, por conseguinte, gerando emoção de medo.

Ao entender emoções humanas, como impulsos, adquiridos hereditariamente, e expostos, como a força do hábito que compõe as ações humanas, as mesmas podem ser visualizadas, observadas externamente, ou sentidas pelo ser, sem contudo, demonstrarem sua evolução a olhos vistos, mas, ao final da sobrecarga emotiva, se revelam de forma bombástica. Refiro-me à fúria, à violência e às demais práticas danosas, causadas pelas forças internas, vividas pelo humano. Nesse movimento conceitual, confiro que, “a própria raiz da palavra emoção é originada do latim movere – “mover” acrescida do prefixo “e” -, que denota “afastar-se”, o que indica que em qualquer emoção está implícita uma propensão para um agir imediato”. Sendo assim, as emoções, se afirmam, pelos movimentos expressivos, ocasionados pelas ações internas e externas, presentes no cotidiano humano, que se alternam em momentos de “surpresa/susto, tristeza/angústia, nojo/desprezo, raiva/violência, vergonha/humilhação e medo/terror”, emoções básicas “estabelecidas originalmente por Tomkins” e citadas por Caramaschi (2015, p.103). 

Dito isso, as observações e definições expostas convidam o (a) leitor (a) a pensar sobre a o existir das Emoções humanas no Pragmatismo. O pragmatismo, corrente filosófica que busca traçar o fluxo de experiências humanas, permite realizar uma reflexão crítica sobre as ações. As experiências humanas, observadas e descritas por Chales Sanders Pierce, Willian James e John Dewey, constatam que as investigações científicas e as argumentações filosóficas são amparadas nas práticas, nas atividades básicas e, que, por trás de toda ação, no dia a dia, em específico, do humano, produzimos o real, as crenças, o imaginário, as emoções. 

John Dewey (2011), forte representante da filosofia pragmática, buscou ligar a filosofia com uma educação para a vida, defendendo o entrelaçamento da teoria e prática. E, nesse viés, inspirou-se inicialmente em Hegel, mas tomou como base a teoria de Darwin, ponderando que a Filosofia deveria ser tratada, evolvendo o homem e o ambiente em uma adaptação ativa. Contudo, muito embora a pragmática seja criticada por muitos filosóficos, Danilo Marcondes (2000, p. 38) assevera que em torno das “principais corrente do pensamento [...], a pragmática [...] tem sido por um lado uma das mais influentes, por outro um alvo de ataques [...] o que certamente”, do ponto de vista do autor, as ofensivas demostram largamente que “a pragmática tem importância e os ataques origina-se da pouca compreensão sobre a teoria”. Do mesmo modo, a filosofia deweyana tem sido criticada, no século XXI, por alguns filósofos. Não obstante, se apresenta como objeto de investigação importante, trazendo contribuições significativas para o debate nas áreas de conhecimentos, e no curso da aprendizagem humana, sendo estudada e amplamente referendada por autores proeminentes, bem como os que tratam sobre os conceitos das emoções.

Em vista disso, Griffiths e Scarantino, citado por Stephen; Walter e Wilutzky (2015, p.197), apresentam que todo conteúdo ligado ao “emocional não precisa ter um formato conceitual; em vez disso, tem uma “dimensão fundamentalmente pragmática”, por este aspecto, extremamente relevante, em que a teoria e a prática dialogam, “o ambiente é representado em termos do que proporciona ao portador da emoção o engajamento habilidoso”.

Neste percurso de engajamentos, das intersecções entre o externo e interno, das ações e reações representadas, das emoções e dimensão pragmática, busco pensar e argumentar sobre o existir das Emoções humanas no Pragmatismo, ratificando que o Pragmatismo, como método filosófico, colabora de forma teórico-prática, a partir das observações e ações sobre as emoções humanas, possibilitando-nos visualizar, descrever, compreender, produzir conceitos, contribuindo assim com a ciência, e por extensão, com as diversas áreas do saber. 

Em conclusão, o existir das Emoções humanas no Pragmatismo favorece à uma melhor compreensão das emoções, presentes nas/pelas atitudes, expressões e/ou são sinalizadas, a partir das notas e ações, oportunizando ao outro produzir conceitos. Como afirma Rubem Alves (2004, p.119), “a alma humana não pode ser conhecida “em geral”, cientificamente”, mas pode ser descrita, de forma prática, o que o olho alcança. Na visão de Koury (2019, p. 3), vivemos em uma sociedade que não exerce esforços, para discutir e se interessar pelas emoções, mesmo porque, “toma as suas crenças sobre elas como algo dado”, pois apesar de vários estudos já existentes sobre o tema, “todos os termos emocionais ainda são indefinidos e altamente ambíguos”. Koury (2019, p. 3), também, afirma que: “as definições que existem, como as constantes nos dicionários, não são detalhadas o suficiente, e não estão de acordo entre si”. Essa insuficiência se deve pelo fato de cada ponto de vista partir de uma dada observação, em espaços e momentos diferentes, de leituras e experiências diferentes, pela riqueza e diversidade ambiental, ou seja, o ponto de vista de cada um, sejam: filósofos, educadores, especialistas nas diversas áreas do saber, depende da vista do ponto distinto, singular, percebido pelos olhos que o observador possui, pelas crenças particulares, pelas emoções. Na prática, Darwin, em sua crença, descreveu que as emoções e seus estados internos dão origem às expressões e que muitas emoções foram causadoras de sobrevivência, e de seleção natural, como o recuo, em uma dada situação, gerado pelo medo, ou a raiva “habitualmente efetuadas sob um determinado estado”, no sentido de sobrevivência da espécie, como, por exemplo, a alegria em que “dançamos, batemos palmas, pisoteamos o chão”, no sentido de auferir afinidade para a sobrevivência, e toda essa manifestação, espontânea ou não, demonstra, ao nosso ver, o existir das Emoções humanas no Pragmatismo.

Referências

ALVES, Rubem. Entre a ciência e a sapiência: o dilema da educação. São Paulo: Edições Loyola, 2004.

CARAMASCHI, Sandro. Psicologia evolucionista e as expressões faciais de emoções. In COELHO, Jonas Gonçalves, BROENS, Mariana Claudia (org.). Encontro com as ciências cognitivas [recurso eletrônico]: cognição, emoção e ação. 1. ed. – São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015.

DARWIN, Charles. A expressão das emoções no homem e nos animais; prefácio Konrad Lorenz; tradução Leon de Souza Lobo Garcia. – São Paulo: Companhia das Letras, 2009.

DEWEY, John. Reconstrução em filosofia. São Paulo: Ícone, 2011.

JAPIASSÚ, Hilton; MARCONDES, Danilo. DICIONÁRIO BÁSICO DE FILOSOFIA. 5ª EDIÇÃO. Publisher: Zahar, Year: 1990.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. The Dewey-Bull theory of emotions Thomas Schef. A teoria das emoções de Dewey Bull Thomas Scheff. RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoção, v. 18, n. 54, dezembro de 2019 ISSN 1676-8965.

MARCONDES, Danilo. Desfazendo mitos sobre a pragmática. ALCEU - v. I – pg. 38 a 46 – jul /dez 2000.

Westbrook, Robert B. John Dewey. Robert B. Westbrook; Anísio Teixeira; José Eustáquio Romão; Verone Lane Rodrigues (org.). – Recife: Fundação Joaquim Nabuco, Editora Massangana, 2010.