Radar Filosófico - Da questão judaica à questão palestina: o pensador judeu Ernst Bloch e a recusa radical ao sionismo
Doralice de Lima Barreto
Doutoranda em Filosofia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE)
Marta Maria Aragão Maciel
Doutora em Filosofia pelo Programa Integrado de Pós-Graduação em Filosofia UFPE/UFPB/UFRN
06/08/2024 • Coluna ANPOF
Temos acompanhado as últimas notícias sobre a situação dos Palestinos na faixa de Gaza e sua luta constante contra o Estado de Israel pelo seu território. Desde o ataque de Hamás ocorrido em 2023, temos observado esse cenário internacinal e a grande comoção de movimentos sociais e juventude universitária em muitos países que levam a bandeira em favor da Palestina com o entendimento de qua há uma situação política opressora por parte do Estado de Israel.
Toda essa situação complexa nos convida a uma importante e profunda reflexão alicerçada nos elementos históricos e filosóficos, não apenas para compreender os acontecimentos entre Palestina e Israel, como também para tomar uma posição crítica sobre esse fato. Nesse sentido, nos apoiamos nas reflexão do filósofo Ernst Bloch, um pensador judeu e marxista que, além de possuir um posicionamento anti-fascista, se torna porta-voz da lucidez sobre o assombroso sionismo.
Nosso artigo busca contribuir para esse debate partindo das reflexões de Ernst Bloch que toma um posicionamento explícito contra o sionismo do Estado de Israel. Se trata de uma denúncia, à luz do marxismo, à constituição do Estado sionista por ele entendida como “invasão de uma terra árabe”. Ao longo do artigo expomos como esse autor desenvolve seus argumentos partindo de uma visão ampla sobre a concepção de Estado e sua função enquanto conciliadora de classes. O Estado de Israel não é mais do que a opressão institucionalizada sobre os povos árabes. Do mesmo modo que o Estado, na realidade sempre cumpriu o papel de oprimir os povos de todo o mundo sob o domínio da classe capitalista.
Nessa esteira, destacamos a crítica de Bloch ao sionismo como eco das críticas de Karl Marx presentes na obra Sobre a Questão Judaica (1844), no qual Marx debate com o autor Bruno Bauer acerca do problema da emancipação política dos judeus no séc. XIX se tratar de uma questão puramente religiosa. Para Marx, tratava-se, já nesse texto de juventude, não somente de recusar o Estado cristão e exigir o Estado laico, mas de se fazer a crítica do Estado, uma vez que este é apenas uma máquina administrada pelas classes dominantes para garantir seus interesses econômicos.
Desse modo, enfatizamos que a reflexão do filósofo Ernst Bloch e seu posicionamento antissionista não trata de resolução para um fictício antagonismo entre judeus e palestinos. O que há por trás desse discurso é o antagonismo de classes em todo o mundo que ultrapassa nacionalidades, etnias e credos. Hoje presenciamos um levantamento das classes trabalhadoras e juventude contra o Estado sionista de Israel e por uma Palestina livre, do rio ao mar.