Entrevista com Vinicius Figueiredo
Vinicius Berlendis de Figueiredo
Professor do Departamento de FIlosofia da UFPR e ex-presidente da Anpof
15/01/2015 • Entrevistas
EXPANSÃO E AVALIAÇÃO DA PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA
Vinicius Berlendis de Figueiredo, Coordenador Adjunto da Área de Filosofia-Teologia da CAPES e docente do Departamento de FIlosofia da UFPR, responde à ANPOF sobre novos Programas de Pós-Graduação, revisão do processo de avaliação e a agenda da área na CAPES para o próximo ano. As questões foram enviadas por e-mail e respondidas em 28 de março de 2015.
1. Qual a agenda proposta pela Área para o próximo período, em particular para 2015?
A ideia geral é refletir, no plano das políticas da CAPES, a dimensão que a Filosofia assumiu recentemente no Brasil. Creio que o crescimento e a diversificação por que passou a Filosofia no Brasil são fenômenos que ainda não foram compreendidos em toda sua extensão, nem suas implicações foram completamente acomodadas pelas agências de fomento e avaliação. É preciso trazer essa diversidade para o cotidiano da CAPES no que diz respeito à avaliação. Isso significa elaborar instrumentos que possam aferir vocações diferentes, introduzindo unidade na diversidade sem, por isso, deixar de instituir parâmetros do que entendemos por excelência na área.
É importante também que os Programas tenham mais clareza sobre seus pares; isso poderá representar um enorme ganho coletivo. Sabermos mais uns dos outros permitirá aprendermos mais uns com os outros. Refiro-me a políticas concretas, que incluem desde as estratégias adotadas para cooperação nacional e internacional, até as ações voltadas para estimular o desenvolvimento da pesquisa e formação discente, passando pela atitude que os Programas assumem em relação a demandas externas de ordem social, educacional e cultural.
Um outro ponto concerne ao fato de que, como é sabido, a Filosofia forma um condomínio com Teologia/Ciências da Religião na CAPES. Há entendimento nas duas subcomissões de que devemos trabalhar junto à Diretoria da CAPES para que cada uma delas se torne uma área própria. Embora haja pontos de contato e colaboração conjunta, são realidades diferentes, cujas singularidades não devem ser negligenciadas. É importante, por exemplo, que os representantes da Filosofia, assim como a Teologia/Ciências da Religião, possuam assento no Conselho Técnico-Científico (CTC), o que, pelas normas em curso, só ocorrerá quando cada uma delas adquirir estatuto de Área.
2. Quais os APCNs já aprovados pela CAPES em 2014/15? Essa expansão mostra alguma tendência?
A nova coordenação de Área Filosofia/Teologia-Ciências da Religião, presidida por Flávio Senra (Ciências da Religião PUC/MG), assumiu em setembro de 2014. Desde então, e me limitando à Subcomissão Filosofia, houve uma proposta de Minter-Dinter submetida e aprovada. Também tivemos dez novos APCNs na Subcomissão Filosofia. Um deles foi reencaminhado para a Área Interdisciplinar, por conta da natureza da proposta. Dos demais, foram aprovados o mestrado da Universidade Federal de Pernambuco, da Universidade Federal do ABC; e os doutorados da Universidade do Oeste do Paraná e da Universidade Federal de Pelotas.
É difícil palpitar sobre tendências tendo por amostra apenas um ano. O número de propostas, em todo caso, me parece expressivo, corroborando a ideia de que a expansão da pós-graduação em Filosofia ainda está em curso. Constata-se também uma diversidade regional significativa. O fato de os dois novos doutorados não estarem situados próximos a capitais também é relevante, pois indica que a pós-graduação em Filosofia já não se limita a grandes centros urbanos, como ocorreu em seu início. Isso também possui consequências para o perfil da pesquisa feita entre nós.
3. Quais as razões e o impacto da mudança da avaliação de trienal para quadrienal?
A decisão foi tomada na última reunião do CTC da CAPES de 2014. Creio mas é apenas conjectura que a motivação principal liga-se ao fato de que o processo de avaliação tomou proporções gigantescas nas últimas edições. É um encontro que envolve centenas de colaboradores, pareceristas, etc., que demanda recursos humanos e possui um custo elevado. Por outro lado, do ponto de vista dos Programas, a mudança para a avaliação quadrienal permite definir melhor estratégias sem a corda no pescoço. Basta que os Seminários de Acompanhamento sejam produtivos, no sentido de acomodar as mudanças das áreas e acenar para os parâmetros que serão utilizados na avaliação ao fim do período.
4. Qual a relevância da revisão do Documento de Área, colocada em debate a partir de sua participação no Encontro Nacional da ANPOF?
Primeiro, cabe ressaltar a importância da iniciativa da Direção da ANPOF em promover mesas no Encontro Nacional sobre política acadêmica, avaliação, internacionalização, etc. Foi realmente muito positivo e seguramente será uma referência para a definição das políticas no âmbito das agências de fomento e avaliação.
Indo à questão, creio que o Documento de Área exprime a perspectiva e as expectativas que a comunidade da pós-graduação em Filosofia possui sobre si mesma. Tem um sentido de texto norteador. Sob esse aspecto, é um texto sempre passível de revisão, visto que deve acompanhar as mudanças por que passa a realidade que ele a um só tempo procura exprimir e pautar. Logo, sua revisão é natural e bem-vinda, especialmente no contexto das mudanças por que tem passado a pós-graduação em Filosofia no Brasil. Creio que a ocasião para acertarmos os termos gerais dessa revisão é o Seminário de Acompanhamento, que deverá ocorrer no fim do semestre em curso. Lá, com a participação dos coordenadores dos Programas, poderemos redefinir questões relativas à avaliação da produção docente, discente, internacionalização, perfil dos Programas, etc. Será o momento oportuno para dar densidade à relação entre agência e a comunidade de pós-graduação em Filosofia.