Professor Rogério Corrêa comenta o dia 20 de novembro

Nádia Junqueira Ribeiro

Doutora em Filosofia (Unicamp) e assessora de comunicação/Anpof

20/11/2017 • Entrevistas

Hoje, 20 de novembro, é comemorado o Dia nacional da Consciência Negra no Brasil. Esta data foi instituída oficialmente pela lei nº 12.519, de 10 de novembro de 2011. Apesar da crescente discussão sobre a situação dos negros e negras na sociedade brasileira e da constante luta contra o racismo, a presença destes nas universidades e cursos de filosofia ainda é subrepresentada. A filosofia afro-americana também é tímida em nossos currículos. Para discutirmos esse cenário, o professor Rogério Corrêa (UFSM) para este espaço. 

ANPOF: Da perspectiva teórica, como avalia a presença da filosofia afro-americana em nossas instituições? Isso tem mudado com o decorrer dos anos? Quais as dificuldades e desafios neste sentido?

Rogério Corrêa: Trata-se de uma data significativa para os negros e negras brasileiros e um momento importante para avaliação da situação dos mesmos na nossa sociedade. Por isso, é louvável que a atual Diretoria da ANPOF tenha aberto um espaço para a comunidade filosófica lembrar desse dia.

Embora eu não conheça os currículos dos cursos de filosofia das universidades brasileiras, arrisco afirmar que o espaço para a filosofia afro-americana nos nossos cursos se não existe, então é mínimo. Creio que isso não é por causa da inexistência de filósofos negros, pois basta lembrar dos nomes de Charles Mills, Kwame Anthony Appiah e da filósofa afro-americana Angela Davis. Outro aspecto que é significativo e serve de parâmetro para observarmos a inexistência de discussões sobre a filosofia afro-americana é a ausência de artigos nas revistas de filosofia que tratem desse tema. Aqui, não se pode alegar a ausência de temas pertinentes, pois há várias discussões importantes atualmente sobre metafísica da raça e injúrias raciais. Por que isso acontece? É difícil arriscar uma resposta para isso. Tanto pode ser em função da falta de interesse da nossa comunidade acadêmica, como do baixo número de negros nos departamentos de filosofia. Se o problema for falta de interesse, então a inserção de disciplinas nas grades curriculares e a eventual proliferação poderiam melhorar o quadro. Se o problema for o baixo número de negros nos nossos cursos, a situação é mais complicada, pois depende da adoção de políticas sociais. Isso, no entanto, não depende das Coordenações e Chefias dos cursos. 


ANPOF: Da perspectiva da presença dos negros nos próprios cursos de Filosofia, hoje não conseguimos mensurar quantos estão na graduação, na pós-graduação, no corpo docente. Não seria o caso de empreender uma pesquisa análoga à que foi feita sobre a presença feminina na área para que tenhamos este cenário? Qual a importância de termos este mapa? 

Rogério Corrêa: É verdade que nos últimos anos o número de negros nas universidades brasileiras aumentou em função da adoção da política de cotas. Entre 2005 e 2015 o percentual de negros aumento de 5,5% para 12,8%. Essa mudança, no entanto, é pouca se comparada com a situação dos brancos, cujos percentuais passaram de 17,85 para 26,5, no mesmo período. As razões para o quadro desfavorável dos negros estão associadas a questões sociais. Se estas razões são as mesmas para o caso dos estudantes negros de filosofia é difícil saber. Isso por causa da total e completa falta de dados confiáveis sobre a situação dos negros nos cursos de filosofia, uma vez que não possuímos nenhum indicativo oficial ou não oficial que nos permita dizer com segurança quais são as causas para isso. De qualquer forma, penso que isso é algo importante a ser feito e com urgência, pois a posse de dados pode nos dar clareza dos problemas que os negros enfrentam assim como das medidas a serem adotadas.

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