Nota de repúdio à invasão ao Centro Acadêmico de Filosofia Gerd Bornheim da UERJ
02/10/2024 • Notas e Comunicados
A Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (Anpof) vem a público repudiar a invasão do Centro Acadêmico de Filosofia Gerd Bornheim da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (CAFIL-Autogestão UERJ) pela tropa de choque em 20 de setembro de 2024. Tal invasão ocorreu após uma greve estudantil de ocupação que se mantinha desde 26 de julho, visando à revogação do Ato Executivo de Decisão Administrativa-AEDA 38/2024, que ficou conhecido como AEDA da fome, e que suspendeu e mudou os critérios para e recebimento de uma série de bolsas e auxílios relacionados à permanência estudantil. Tal AEDA havia sido publicado em meio ao recesso acadêmico e sem a devida discussão com a comunidade da UERJ.
A resposta estudantil foi a greve de ocupação, visando evitar à continuidade normal das aulas, já que muitos alunos não têm como manter sua permanência universitária após a medida. Para acabar com a ocupação, a reitoria da UERJ entrou com uma ação de reintegração de posse, que culminou com o pedido também por parte da reitoria da entrada da tropa de choque da PM do Rio de Janeiro na UERJ para a desocupação dos estudantes das instalações da universidade. Algumas cenas dessa entrada foram transmitidas pela grande mídia. Com bombas de efeito moral e outros artefatos, a tropa de choque, de modo violento, agrediu e prendeu estudantes e, ainda, um parlamentar que estava no local, a pedido dos estudantes, tentando mediar a negociação do movimento com a reitoria. Nesse mesmo dia, algumas horas após a desocupação, o Centro Acadêmico de Filosofia, que estava fechado com cadeado, foi invadido, depredado e objetos foram furtados. Câmeras do andar comprovam a entrada no local por policiais da tropa de choque. Cabe ressaltar que o Centro Acadêmico situa-se no nono andar do prédio principal, bastante distante de onde ocorreu a ação de desocupação. Em uma universidade pública, partindo de uma reitoria eleita democraticamente, dar lugar à resolução de um conflito de caráter político por meio da judicialização, criminalização dos estudantes e, na sequência, pela força da polícia do Estado, seria já o suficiente para pensarmos na gravidade desses acontecimentos.
A invasão do Centro Acadêmico de Filosofia eleva à máxima atenção essa gravidade. Em uma democracia, medidas administrativas não deveriam ser impostas pela uso da violência policial. Faz-se necessário que a comunidade acadêmica se debruce sobre o acontecimento e busque compreender as ameaças e os sentidos que estão implicados nessa ação. Em que medida o silenciamento e o acolhimento de tais ações coloca toda a comunidade acadêmica em risco? Em que medida não apenas a luta dos estudantes, mas toda a luta encontra-se sob a ameaça do peso da força.