Avaliação e Política
Daniel Tourinho Peres
05/05/2020 • Debate sobre a Coordenação de Área da Capes - 2017
UFBA
É impressionante como o tema avaliação consome nossa energia. Os coordenadores de programas estão prestes a fazer as indicações que comporão a lista a ser encaminhada para a CAPES, e tudo, ou pelo menos aquilo que mais nos mobiliza, quando se trata de CAPES, é avaliação, qualis, etc. Como se a Capes, e a coordenação de área, tivessem, como única função, nos avaliar. Mesmo um dos textos em debate, que tem como título: A Pós-Graduação em Filosofia no Quadriênio 2018-2021, trata essencialmente da avaliação passada e indica coisas a serem corrigidas avaliação futura.
A Capes, porém, não apenas avalia, ela também traça políticas. E aí nós voamos às cegas. O maior desafio, não apenas para a filosofia, para a ciência e universidades brasileiras, está em uma internacionalização. Para além dos acordos internacionais de cooperação, como Capes-DAAD, Capes-Cofecub, que são referidos em um dos textos desse forum, o principal instrumento com que contavam os programas eram os editais para Pós-Doutorado e Pós-Doutorado Sênior - agora Pesquisador Visitante. Ocorre, porém, que a Capes reduziu drasticamente esse programa, conhecido como balcão. Apenas 30% das bolsas serão concedidas nessa modalidade, através de pedidos individuais. Difícil prever o impacto que isso terá.
A internacionalização, agora, se dará por meio de projetos institucionais, em que o programa de pós-graduação deve participar do projeto geral de sua Universidade, por meio do Edital Capes-PrInt. Acontece, porém, que as Universidades concorrerão entre si, e aquelas, cujos projetos institucionais não forem aprovados, ficaram sem recursos para internacionalização. As Universidades brigarão entre si, e os programas brigarão no interior de cada Universidade. No edital, que terá duração de quatro anos, essa realidade se traduz nos seguintes termos: Apenas 40 projetos serão selecionados, e cada Instituição Proponente apresentará somente uma proposta, na qual descreverá os temas prioritários e enumerará todos os PPGs que atuarão sobre estes temas. A escolha destes PPGs deverá ser justificada. O valor total estabelecido no edital é de no máximo R$ 300.000.000,00, para quatro anos, com a previsão, para agosto de 2018, de R$ 150.000.000,00
Como se as coisas não estivessem já bastante complicadas, as propostas das Universidades devem ser encaminhadas até o dia 18 de abril, ou seja, as instituições têm pouco mais de 3 meses para elaborar os seus projetos institucionais, em um formato que não está claro para ninguém. Mas parece estar claro para nós, da filosofia, que a coisa mais relevante para se discutir na Capes é avaliação. Triste modo de traçar e fazer política. Qual Programa de Pós-Graduação sabe como irá integrar o seu Projeto Instituicional? Como as suas instituições responderão ao edital? A área, tem uma avaliação do impacto que tal mudança trará para nós? Há uma articulação com as outras áreas das humanidades, para se contrapôr à voracidade das ciências?