CONTRIBUIÇÃO DO PPGF-UFRJ PARA OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA ÁREA
Fernando Santoro
05/05/2020 • Debate sobre Coordenação de Área da Capes
04 Mai 2014
Conforme comprometimento assumido na reunião de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação em Filosofia de 2012, o Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (PPGF-UFRJ) produziu e encaminhou, no relatório Capes de 2013, o documento abaixo ao Comitê de Avaliação da Área de Filosofia, contendo suas reflexões e sugestões como contribuição para a constituição dos critérios de avaliação da área nos quesitos “Internacionalização” e “Interdisciplinaridade”.
Visto a abertura da discussão sobre a Coordenação da Área neste Fórum de Debates, o PPGF-UFRJ entende que deve trazer este documento para discuti-lo de modo ampliado com os pares. Em nosso entendimento, a Coordenação da Área deve estar atenta às proposições públicas dos Programas de Pós-Graduação, e acreditamos que a ANPOF, por meio de iniciativas como a deste fórum, é o canal institucional mais adequado para viabilizar esta comunicação de modo transparente e colaborativo.
Um outro aspecto, reparado naquela reunião de Coordenadores de Programas de Pós-Graduação, foi a alteração de critérios de avaliação apresentada ao final e não no início do triênio. Acreditamos que todos os critérios de avaliação devem ser transparentes, devem estar atentos às proposições e discussões da área e devem ser divulgados com antecedência. Propomos que a futura Coordenação de Área inicie os trabalhos da sua gestão justamente discutindo os atuais critérios, deixando claro em tempo hábil quaisquer alterações e estabelecendo os critérios que serão usados antes da coleta dos relatórios do segundo ano (visto que o primeiro já correu). Neste sentido, a nossa contribuição visa abrir uma pauta de temas e critérios que acreditamos merecer atenção; certamente há ainda outros temas de importância e procuraremos continuar contribuindo para a discussão geral, a partir de nossas discussões colegiadas.
O documento abaixo é um instrumento propositivo, formulado de modo sucinto, nos termos retóricos de um documento de área – aprovado pela Comissão de Pós-Graduação do PPGF-UFRJ – ; e consta também nos Cadernos de Indicadores (PO) do PPGF-UFRJ, no site da Avaliação Trienal 2013, item: Proposta do Programa - Críticas/Sugestões para Comitê de Avaliação.
Cordialmente,
Fernando Santoro / Coordenador do PPGF-UFRJ
CONTRIBUIÇÃO DO PPGF-UFRJ PARA OS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DA ÁREA
O PPGF/UFRJ entende que “Internacionalização” e “Interdisciplinaridade” constituem valores importantes para a evolução qualitativa dos Programas de Filosofia, e que merecem uma formulação mais explícita e detalhada nos documentos de orientação da avaliação da área. O PPGF/UFRJ encaminha suas formulações, oriundas tanto da sua experiência quanto de suas metas e ideais, e as disponibiliza para serem livremente discutidas e aproveitadas.
INTERNACIONALIZAÇÃO
Vários Programas de Pós-Graduação em Filosofia desenvolvem com regularidade cooperações internacionais e suas pesquisas inserem-se cada vez mais nos níveis e padrões mais altos de pesquisa internacional em Filosofia. Este é, sem dúvida, um valor que agrega qualidade aos PPGs e merece tornar-se um critério de avaliação importante. Listamos abaixo alguns conceitos que entendemos como indicadores de qualidade neste quesito.
1) Institucionalidade: constituição de acordos internacionais. A inserção internacional de um PPG evidencia-se não por ações isoladas, mas por políticas e estratégias institucionais que se concretizam em acordos, tais como: Acordos de Cotutela, Acordos de Cooperação para missões recíprocas (p. ex. CAPES/Cofecub, Capes/DGU).
2) Regularidade: continuidade e renovação dos atos. Um PPG tem regularidade de ações institucionais quando estas, depois de iniciadas, continuam em gênero por mais de uma chamada de edital ou são renovadas por ações equivalentes.
3) Reciprocidade: as ações entre as instituições internacionais devem ser equivalentes em modo (acordos, missões, publicações, participação em eventos, estágios etc.) para as instituições dos diferentes países. Deve-se buscar também a reciprocidade quantitativa em cada modo. Em geral as cooperações começam assimetricamente : ações docentes de um lado, estágios discentes de outro, por exemplo; a progressiva simetria nas ações denota um amadurecimento da internacionalização do PPG.
4) Formação. A formação internacional mede-se sobretudo pelos estágios doutorais e pós-doutorais de discentes e docentes e pela realização de cotutelas. Um primeiro subcritério é a quantidade de estágios, outro subcritério, a diversidade de universidades e países em que se realizam, um terceiro é a reciprocidade, quando tais estágios também são oferecidos pelo PPG a estagiários estrangeiros.
5) Publicação. A internacionalização das publicações de um programa mede-se a) pela quantidade de artigos publicados em periódicos estrangeiros; b) pela quantidade de livros e capítulos de livros publicados em línguas estrangeiras; c) a tradução de obras para línguas estrangeiras. É desejável também a reciprocidade neste aspecto, e o ideal é que não haja a uniformização em uma língua dominante, mas a diversidade. Publicações bilíngues que difundem internacionalmente a língua portuguesa, devem ser particularmente valorizadas. Publicações em português em projetos editoriais de cooperação com países lusófonos também devem ser valorizadas.
6) Editoração. A internacionalização da editoração é uma ação recíproca à da publicação internacional. Mede-se pela quantidade de artigos e capítulos de livros estrangeiros publicados com apoio do PPG, em periódicos e em organização de coletâneas nacionais. É valorizável tanto a publicação em língua estrangeira quanto a tradução de obra estrangeira. Neste caso também o ideal é que não haja a uniformização em uma língua dominante, mas a diversidade. Publicações bilíngues que difundem internacionalmente a língua portuguesa, devem ser particularmente valorizadas.
7) Participação em eventos. A internacionalização mede-se tanto pela quantidade e diversidade de participações em eventos estrangeiros internacionais quanto a quantidade e diversidade de participações de estrangeiros em eventos internacionais organizados pelo PPG. Excelente é um evento internacional que seja organizado por diversas instituições internacionais, entre as quais o PPG.
8) Missões. A realização de missões de professores do PPG em instituições estrangeiras e de professores estrangeiros no PPG denota amadurecimento nas relações internacionais. Missões mais duradouras como cursos de professores visitantes, são mais significativas.
9) Pesquisa. Projetos de pesquisas em parceria com instituições de diversos países são os catalizadores de todas as ações internacionais. Valorizar a diversidade multinacional e institucional e a formação de redes de pesquisa.
INTERDISCIPLINARIDADE
A Filosofia precede histórica e ontologicamente à própria ideia de disciplina do conhecimento. Quando, nas origens, Aristóteles busca distinguir os saberes e as ciências, com seus objetos e métodos, tal distinção ainda se faz a partir do interior da Filosofia. A rigor, é no séc. XIX que se vão instituir as delimitações disciplinares contemporâneas e excluir da Filosofia a maioria dos objetos de conhecimento, à medida que se constituem e determinam as ciências positivas da natureza e do espírito. A começar por esse mesmo movimento de constituição das fronteiras disciplinares, à Filosofia sempre coube estar no interior mesmo das discussões de estabelecimento de campos, objetos e métodos do saber. Mas também, se é tomada a perspectiva de setorização disciplinar consumada, é no seio da Filosofia que se encontram questões fundamentais que atravessam várias ou mesmo todas as disciplinas do conhecimento e ainda outras atividades do espírito e da cultura não exclusivamente teóricos, como a produção artística, a normatização e legislação, a educação e a política. Por isso, pensar e realizar a INTERDISCIPLINARIDADE em Filosofia não deve ser algo extrínseco e acidental, mas pode partir dos objetos de reflexão próprios e intrínsecos à própria atividade filosófica e a partir da abordagem no interior da própria Filosofia. Quando se vai avaliar, de um ponto de vista disciplinar, a interdisciplinaridade da atuação de pesquisas filosóficas e Programas de Pós-Graduação em Filosofia, é preciso levar em conta esse aspecto fundamental: trata-se de relação que parte de um elo próprio do projeto e do objeto filosófico ou de relação artificial que reuniu a posteriori instituições de modo meramente ocasional e fortuito? Em termos operacionais, entendemos que a relação interdisciplinar entre diversas instituições ou diversos campos do conhecimento e da ação cultural e social deve partir das Linhas de Pesquisa e dos Projetos de Pesquisa de um Programa de Pós-Graduação em Filosofia. Os conceitos e critérios, que a seguir o PPGF/UFRJ propõe, seguem esta perspectiva.
1) Delimitação do campo de interação interdisciplinar a partir das linhas de pesquisa e dos projetos de pesquisa filosóficos do PPG. Por exemplo, é natural e desejável que uma linha filosófica de Ética estabeleça relações interdisciplinares com as ciências sociais aplicadas, com a Biologia e a Medicina e outras disciplinas que requisitam uma reflexão sobre os conceitos fundamentais da Ética ou da Filosofia da Ação; ou que uma linha filosófica de Estética estabeleça relações com as diversas artes e instituições de formação ou de cura artística como escolas de belas artes ou museus; e que uma linha de História da Filosofia estabeleça relações interdisciplinares com pesquisas de filologia e outras perspectivas de história da cultura.
2) Institucionalidade: constituição de acordos institucionais. A inserção interdisciplinar de um PPG evidencia-se não apenas por ações isoladas, mas sobretudo por políticas e estratégias institucionais que se concretizam em acordos, tais como convênios entre PPGs de diversas áreas, do PPG com Sociedades Científicas, com museus etc.
3) Regularidade: continuidade e renovação dos atos. Um PPG tem regularidade de ações institucionais quando estas, depois de iniciadas, continuam em gênero por mais de uma ocasião ou são renovadas por ações equivalentes.
4) Formação. A formação incrementada pela interdisciplinaridade evidencia-se na inserção de formação filosófica em outros cursos (como filosofia do direito ou filosofia da educação em cursos de direito e em licenciaturas) e na formação de habilidades não filosóficas úteis à pesquisa filosófica (tal como a formação filológica para historiadores da filosofia).
5) Publicação. A interdisciplinaridade das publicações de um programa mede-se: a) pela quantidade de artigos filosóficos publicados em periódicos de outras áreas; (não devem ser contados os casos em que a obra publicada em outras áreas não é filosófica, mas apenas coincidiu de ter como autor um integrante do PPG) b) pela quantidade de livros e capítulos de livros publicados em obras de caráter interdisciplinar. É desejável também a reciprocidade neste aspecto: recepção de contribuições não filosóficas, mas pertinentes, em publicações de perspectiva predominantemente filosófica.
6) Participação em eventos. A interdisciplinaridade mede-se pela quantidade e diversidade de participações filosóficas em eventos interdisciplinares e sobretudo pela organização de tais eventos, em cooperação com instituições de outras áreas.
7) Pesquisa. Projetos de pesquisas em parceria com instituições de outros campos disciplinares são os catalisadores de todas as ações interdisciplinares. Valorizar a diversidade institucional e a formação de redes de pesquisa.