COM O COVID19 ESTAMOS DIANTE DE UMA SITUAÇAO-LIMITE, MAS O MUNDO NÅO VAI SE ACABAR

José Mauricio de Lima

05/05/2020 • Filosofia e Pandemia

Universidade de Brasilia - UnB

REFLEXÕES POLÍTICAS

COM O COVID19 ESTAMOS DIANTE DE UMA SITUAÇAO-LIMITE, MAS O MUNDO NÅO VAI SE ACABAR.

Quando o governo chinês deu o alerta sobre o surgimento de um novo coronavírus, em 31 de dezembro de 2019, informando à Organização Mundial de Saúde (OMS) sobre uma série de casos de pneumonia de origem desconhecida em Wuhan, cidade chinesa de 11 milhões de habitantes, o mundo, ainda sem imaginar o que estaria por vir, não deu muita atenção. Talvez seja mais uma dessas "gripezinhas", diziam alguns.

Em 11 de janeiro de 2020 foi registrado o primeiro óbito na China e no dia 13 de janeiro a OMS notificou o primeiro caso de uma pessoa infectada fora da China, na Tailândia. Daí por diante ocorreu uma rápida disseminação da doença, a tal ponto que a OMS decretou emergência de saúde pública de interesse internacional, no final do mês de janeiro.

Para se ter ideia do quanto a situação era preocupante, esse alerta mundial só foi acionado seis vezes. As outras cinco ocasiões foram: H1N1 (2009); poliomielite (2014); ebola (2014); microcefalia associada ao zika (2016), devido à crise que se originou no Brasil; e novamente o ebola (2019).

Enquanto o vírus se propagava pelo mundo em velocidade exponencial, aqui no Brasil estávamos em pleno verão e em clima pré-carnaval. Apesar dos sinais do perigo que se anunciava, o Carnaval, maior festa da terra, transcorreu normalmente e os estádios de futebol estavam lotados, retomando os campeonatos regionais e nacional.

Havia no ar um certo otimismo das pessoas com os sinais de retomada da economia que, embora lenta, era auspiciosa, uma vez que vínhamos da maior recessão da nossa história. A bolsa de valores refletia esse otimismo e muita gente viajava pelo mundo comemorando os novos tempos, principalmente por países que hoje enfrentam picos da epidemia, como Italia, Espanha, França e Estados Unidos.

O agravamento da situação na China e o aumento do número de casos de contaminações do coronavírus na Europa e Estados Unidos ativou o alerta das autoridades sanitárias no Brasil. Em 26 de fevereiro o primeiro caso foi notificado em São Paulo e em 17 de março foi registrado o primeiro óbito. De lá para cá os números de casos crescem exponencialmente. Hoje, 11 de abril de 2020, o número de mortes em decorrência do Covid19 ultrapassou a barreira dos 1.000, enquanto o número de infectados está em torno de 20.000.

No momento o país está dividido entre aqueles que querem a flexibilização das medidas restritivas de movimentação e aqueles que defendem mais rigor no afastamento social. De qualquer modo, esse dilema nos remete a questões filosóficas que envolve à liberdade e, por via de consequência, à existência.

Antes de qualquer coisa, precisamos ter a consciência de que o que estamos vivenciando no contexto do Convid19 não é a primeira vez que acontece no mundo e certamente não será a última. O mundo já viveu muitas pragas, desastres de causas naturais e também provocados pelo próprio homem. A arte, a literatura e o cinema, ao tematizar as pestes e as epidemias, é prenhe de situações semelhantes, quer seja como relatos de fatos reais passados, quer seja como ficção, projetando possíveis tragédias, mostrando o sofrimento e a impotência do homem diante de tais eventos. 

Portanto, nada disso é uma novidade na historia da humanidade.

Mas saber isso racionalmente por meio da história não nos conforta. Para nós que estamos vivendo essa situação, é legítimo que tenhamos esse sentimento invasivo da nossa fragilidade, ou seja, o reconhecimento do nosso inevitável fracasso diante de situações-limite.

O filósofo alemão Karl Theodor Jaspers (1883-1969) e sua ótica filosófica sobre a existência, elaborou, entre outros conceitos, o que chamou de “situações-limite”. Após formar-se em medicina e, depois de trabalhar no hospital psiquiátrico da Universidade de Heidelberg, tornou-se professor de psicologia da Faculdade de Letras. Sua obra inclui os dois volumes de "Psicopatologia Geral", grande marco em sua carreira e na evolução da psicopatologia. Sempre teve interesse em integrar a ciência ao pensamento filosófico na medida em que, para Jaspers, as ciências são por si sós insuficientes e necessitam do exame crítico que só pode ser dado pela filosofia.

 

Como filósofo, dedicou-se ao estudo do existencialismo (ou filosofia da existência), que constitui, segundo Jaspers, o âmbito no qual se dá todo o saber e todo o descobrimento possível. Por isso a filosofia da existência vem a constituir-se numa metafísica. A existência, em qualquer de seus aspetos, é precisamente o contrário de um "objeto", pois pode ser definida como "o que é para si encaminhada”.

 

Para o autor, o problema central é como pensar a existência sem torná-la objeto. A existência humana é entendida como intimamente vinculada à historicidade e à noção de situação: o existir é um transcender na liberdade, que abre o caminho em meio a um conjunto de situações históricas concretas. Dessa forma, estabeleceu as relações entre existência e razão, o que o levou a investigar em profundidade o conceito de verdade. Para ele, a verdade não é entendida como característica de nenhum enunciado particular: é antes uma espécie de ambiente que envolve todo o conhecimento.

No que nos interessa no momento, vamos tomar seus pressupostos sobre como o ser humano vive hoje em uma época de sensação de instabilidade e mudanças aceleradas, muitas vezes não refletidas e/ou não criticadas.

Observe-se que, embora as ponderações de Jaspers sejam de um período do desenvolvimento experimentado no pós-guerra, elas se encaixam perfeitamente na descrição do momento que vivíamos antes da pandemia do Convid19.

De fato, o homem experimentava uma época, em diversos setores, de grande relativização e efemeridade de ideais, de valores éticos, de fundamentos culturais e da defesa da integridade humana. O ser humano, como um ser desejante, está absorto querendo mais e melhor mobilidade, rompimento de barreiras e fronteiras, querendo cada vez mais tecnologia e avanços bio-tecnológicos, o que o faz quase um senhor e escravo de si mesmo, manipulando num terreno incerto e complexo que é a existência e sendo manipulado por vezes. 

Além disso, o homem não quer abrir mão do sensacionalismo do novo, da curiosidade frente às novidades fugazes. Deslumbrado com o desenvolvimento, avanço tecnológico e obsolescência programada, por meio da telemática que derrubou todas as barreiras culturais, o ser humano tornou-se objeto de si e do outro. Prevalece nesse ambiente as tendências pragmáticas, utilitaristas e individualistas em prol do avanço de uns em detrimento de outros.

É nesse ambiente que Karl Jaspers, em seu livro Iniciação Filosófica, se propôs a pensar a atualidade que viveu. Segundo o autor vivenciamos uma época de “auto-esquecimento (...) fomentado pelo mundo da técnica. Pautado pelo cronômetro, dividido em trabalhos absorventes ou esgotantes que cada vez mais leva o homem a sentir-se peça imóvel e substituível”. Afirma ainda que “o pendor para o auto-esquecimento é inerente à condição humana e o homem precisa de se arrancar a si próprio para não se perder (...) em irrefletidas trivialidades e rotinas fixas”. E conclui tentando mostrar que somente no caminho da orientação filosófica poderia oferecer o homem uma bússola segura para um reencontro rumo a origem e a si mesmo.

Na sua percepção de mundo, Jaspers via a situação humana como “ausência de garantia de tudo que está no mundo. (...) Constantemente ameaçado, por vezes malogramos totalmente, não podendo abolir o envelhecimento, a doença e a morte”. Ou seja, a existência, não seria outra coisa senão aquilo que se encontra compreendida como um conglomerado de situações que são limitadoras do homem o qual se compreende conscientemente e historicamente situado, entre estas as chamadas situações-limite.

Nesse sentido, as situações-limite, seriam aquelas situações que constituem nosso viver, ou seja, situações sem as quais não se pode viver como: lutar, sofrer, acaso, se culpar e morrer. Estas não se transformam a não ser nos “modos” em que se manifestam. Para descrever essa situação utiliza a forte metáfora do “muro”. A imagem que faz é como batêssemos nossa cara em um muro, impossibilitados que estamos de ultrapassá-lo. É ai que experimentamos o fracasso. Uma situações-limite intransponível, inexplicável, indomável, intransformável; a única coisa que se pode fazer é esclarecê-la. 

Mais recentemente o sociológico polonês Zygmunt Bauman, expôs com muita clareza a fluidez das relações afetivas em sua visão bem particular da vida na pós-modernidade, atualizando o que poderíamos chamar o de “Zeitgeist” ou espírito do tempo observado por Jaspers.

Voltando para o nosso tema, é justamente na incapacidade de esclarecer o processo epidemiológico como um processo científico enquanto ele acontece que nos coloca em pânico. Na verdade, é isso que nos deixa desorientados, porque o conhecimento científico sempre nos deixou confortáveis diante dos problemas. Estamos acostumados a ter sempre alguém que apresente um manual dizendo o que devemos fazer. E nesse caso também estamos na espera de que alguém nos dê a solução para nos livrarmos do vírus. A nossa insegurança reside no fato de estarmos fora do esquadro da normalidade e mais ainda, presos em nossas próprias casas impossibilitados de nos deslocarmos, contidos pelo medo da morte. A expectativa era que no ano de 2020 o homem desembarcaria em Marte. Ironicamente, hoje se encontra preso em casa.

O mais grave é que a situação envolve várias frentes. Ao mesmo tempo que estamos tentando vencer uma epidemia, com tudo que isso implica do ponto de vista médico, epidemiológico e sanitário, temos que encontrar soluções econômicas que atenuem a agonia econômica pela qualnecessàríamente passaremos. Isso porque no mundo que construimos tudo depende do dinheiro. Precisamos encontrar meios de atenuar o sofrimento das pessoas, mas ao mesmo tempo temos que encontrar os meios de viabilizar economicamente essas soluções.

Além do mais, no Brasil, já tínhamos uma crise em curso, que antecedia a crise a epidemia e que com ela foi enormemente acelerada. A crise se localiza na falta de lideranças políticas, perpassando todos os poderes. A sensação é que atravessamos um momento de grande incapacidade de encontrar lideranças que sejam capazes de conduzir a nação a um porto seguro. A qualidade de liderança no conjunto dos poderes é a mais baixa que tivemos e se poderia imaginar. A crise do Convid19 apenas mostrou as vísceras da crise política que estava instalada. O problema que enfrentamos se tornou mais agudo na percepção das pessoas porque estamos diante de  uma inédita desorganização das lideranças politicas.

O exemplo mais marcante dessa desorientação está refletido na tentativa de adotar ou não o distanciamento social. O pressuposto de se adotar o regime de quarentena na população é tornar o contágio lento para dar tempo ao sistema de saúde de absorver os casos mais graves. Disso decorre o debate sociológico, epidemiológico e econômico acontecendo. A primeira providência que se pode ter disponível é o atraso do contágio pela quarentena, ou seja, o distanciamento social. Ao mesmo tempo, adotar medidas de mitigar a crise econômica que, sem dúvida, já está instalada. Disso decorre, que quando passar o momento critico da pandemia, iremos assistir a agonia econômica que pode se tornar ela mesma uma fonte de agravamento de doenças e mortes.

Nesse ambiente, o que se pode esperar depois que os índices de contaminação e mortes se estabilizarem? O mundo será o mesmo?

Vamos analisar essa questão do ponto de vista de dois pensadores contemporâneos, com visões diametralmente opostos. 

De um lado Slavoj ?i?ek, é um filósofo esloveno, nascido na antiga Iugoslávia. É professor do Instituto de Sociologia e Filosofia da Universidade de Ljubljana e diretor internacional da Birkbeck, Universidade de Londres. Trabalha em temas como filosofia continental, teoria política, estudos culturais, psicanalise, critica de cinema , marxismo, hegelianismo e teologia. 

De outro, Byung-Chul Han, um filósofo e teórico cultural da Alemanha nascido na Coréia do Sul, foi professor na Universidade de Artes de Berlim.

?i?ek diz que o vírus deu um golpe mortal no capitalismo, ao ponto de dizer que o vírus poderá derrubar o regime chinês, economia de mercado socialista baseado em empresas estatais e uma economia de mercado, cuja origem provem de Deng Xiaoping, que chamou o seu sistema econômico de socialismo com características chinesas, um eufemismo que adotou para justificar a abertura econômica promovida na década de setenta do século passado.

Byung-Chul Han, por sua vez diz que não é nada disso, ou seja, diz que a China poderá vender seu estado policial digital, como modelo de sucesso, exibindo a sua superioridade. E que o capitalismo continuará com mais pujança ainda. 

Observa-se uma certa dramaticidade nas duas posições.

A posição de ?i?ek é conhecida, pois vem falando há muito tempo sobre algo que ele denomina de “hipótese comunista”, conceito formulado pelo filósofo, dramaturgo e militante francês Alain Badiou, que inspira uma obra homônima sobre a revitalização do comunismo e um novo programa para a esquerda.

Na sua linguagem psicanalista de orientação lacaniano, suas observações se tornam um tanto herméticas para aqueles que não são iniciados em temas psicanalíticos. Mas, na verdade, o que ele quer dizer é que o vírus causaria uma desordem global de tal dimensão que poria em cheque a ideia de que a OMS nao quis confrontar no começo da epidemia, porque a china tem quase 20% do PIB mundial, razão pela qual relativizou a gravidade do vírus no momento em que deveria ter dado o alarme de forma mais dramática.

A desconfiança na posição do ?i?ek emerge do fato de que ele sempre está apostando na ideia de que o capitalismo vai acabar. Esse seria, segundo sua hipótese, o momento certo para surgir, formas mais solidárias entre as pessoas sem a mediação de corporações capitalistas. Ou seja ele entende que, a partir do caos que economia poderia se tornar, entraríamos em uma situação de uma economia tão destroçada que poderia colocar o capitalismo em xeque.

Ao que tudo indica, Byung-Chul Han parece estar mais próximo da realidade. Sua hipótese, que parece mais factível, é que poderá surgir um modelo mais controlador, um modelo com um maior controle de liberdades individuais.

Não quer com isso dizer que passaremos para um regime totalitário, no sentido da crença de que o "big data", fenômeno decorrente da abundante quantidade de informações criadas, que já era percebida muito antes da possibilidade de acesso à internet em smartphones, e que agora com o desenvolvimento tecnológico, esse volume que se tornou muito maior, poderão ser fornecidos por empresas, redes sociais, e-commerce e sites em geral estão revolucionando vários mercados, como meios de controle social, na medida em que agora há a possibilidade de criar um rastro digital de qualquer pessoa.

É evidente que mecanismos de controle digitais poderão dar um grande impulso na economia, como também ajudar no combate as epidemias. Isso já uma realidade no Brasil. Agora mesmo, no Estado de São Paulo, uma companhia de telefonia celular, disponibilizou dados agregados e anônimos que permitirão às autoridades do Estado identificar se as regras de isolamento social vêm sendo cumpridas e em quais regiões há sobrecarga em atendimento médico, além de antecipar tendências de contaminação. Coisa que a Alemanha também anunciou que vai adotar.

Essas informações, poderão ser utilizadas de diversas formas. Por exemplo, poderão ser cruzadas para tirar conclusões de mercado e comportamento associado a regimes de segurança com o argumento de que proteje mais as pessoas. As pessoas passarão a investir mais em câmeras de seguranças, passarão a oferecer seus dados para obter serviços mais rápidos através da internet. Então, nesse sentido ele, não deixa de ser apocalíptico, mais um apocalíptico mais próximo do real do que pode acontecer.

Em resumo, o capitalismo não irá acabar por causa da crise, tampouco o mundo vai se dissolver no ar, inclusive porque foi exatamente em tempos difíceis que o capitalismo de desenvolveu e se reinventou ao longo da historia. Claro que vai haver uma diminuição do crescimento do PIB mundial, mais muito possivelmente haverá a volta daquilo que aconteceu na Europa depois da segunda guerra mundial, com o estado assumindo maiores gastos, ficar mais keynesiano, investindo mais na sociedade para diminuir o desespero.

Na medida em que as pessoas conseguirem se organizar mais livremente isso poderá fortalecer a posição de que os seres humanos são responsáveis pela economia e não só esperar mesadas do estado, porque estado nenhum consegue salvar uma situação como essa.

Entre os dois, ?i?ek e Byung-Chul, a posição do último parece mais factível, uma previsão próxima da realidade mais imediata e compatível com o que já podemos dizer sobre o comportamento das pessoas e das coletividades.

Em termos de comportamento de sociedade, tem-se falado muito que o mundo não será mais o mesmo. Primeiramente, precisamos ter em conta que de que a grande maioria das pessoas que contraem o Coronavirus sobrevive. A grande parte do pânico que as pessoas vivem se deve às informações sobre o pico da epidemia focando no grande número de pessoas infectadas, hospitalizadas e óbitos.

Nos sabemos que o medo tem, em algum grau um efeito pedagógico. A ciência já nos mostrou que para amenizar a gravidade do vírus, que não tem uma gravidade em si, mas na rapidez com que ele se propaga, se tiver uma perfeita coordenação entre a capacidade do sistema de absorver a demanda. O descompasso nessa combinação é que determina o grau de letalidade. Ou seja, o vírus aumenta o seu grau de letalidade epidemiológica  quando colapsa o sistema de saúde. Donde se conclui que, se pessoas que forem contaminados receberem tratamento adequado, poderão evitar o óbito, como de fato está ocorrendo. Outras, no entanto, poderão vir a falecer caso o sistema de saúde não tenha capacidade espaço para tratá-las. Muito, como está evidente, a cura seja conhecida e  seja possível na grande maioria  dos casos. 

Já podemos tirar algumas conclusões de tudo isso!

Primeiramente é importante o papel da mídia em informar. Todavia, muitas vezes esse forma de investir no susto e no medo para garantir graus de audiências cada vez maiores tem efeitos negativos. Deve-se conquistar a adesão das pessoas aos cuidados com a epidemia oferecendo informações com clareza e evitar narrativas apocalípticas.

O pessimismo exagerado nessa hora parece ser uma forma de irresponsabilidade, um gozo paranóico, uma atitude completamente contraria aquele que deveríamos ser. 

Devemos ser mais cuidadosos com mensagens pessimistas e apocalípticas. Nesse sentido, é lamentável que a própria ONU ou a OMS tenham classificado a pandemia como algo apocalíptica, o que alimentou um imaginário terrível. 

Por outro lado devemos evitar o otimismo inocente. Não há duvida que a epidemia vai passar. Todas as epidemias passam. Como sempre aconteceu na história, daqui a algum tempo, 10, 20, 30 anos, as pessoas não estarão agindo de modo diferente do que agiam antes da pandemia. É só ver que nos não agimos de forma diferente depois de cem anos da gripe espanhola, que foi infinitamente mais grave do que essa, por vários motivos, inclusive a mortalidade se espalhava por todas as idades. Hoje a situação é indubitavelmente melhor porque a ciência já avançou muito. Hoje já sabemos como tratar. Amanhã teremos uma vacina. Assim caminha a humanidade.

Ou seja, não haverá um novo mundo, as pessoas não serão diferentes. O otimismo, muitas vezes um tanto exagerado, nos dá um pouco de fôlego para continuar vivendo até que tenhamos os respiradores mecânicos em quantidade suficiente e nos trazer um pouco de esperança. 

Mas o otimismo mais relevante é de acreditar na ciência, o otimismo de quem trabalha com informação, tratá-la com responsabilidade e mais precisão para evitar o desespero das pessoas e, principalmente, inibindo a ação das pessoas apocalípticas que estão sempre de plantão para tirar proveito da miséria humana.

JOSÉ MAURÍCIO DE LIMA

Mestre em Filosofia pela Universidade de Brasília - UnB