Programação/Caderno de resumos do Encontro Bianual do GT Nietzsche edição 2023 UESB Porto Seguro
08/01/2024 • GT Nietzsche
Encontro do GT Nietzsche
Coordenação: Rogério Lopes (UFMG) e André Itaparica (UFRB)
Organização:
Márcio José Silveira Lima (UFSB)
André Itaparica (UFRB)
Rogério Lopes (UFMG)
Sede: Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB)
Porto Seguro
10 a 11 de Outubro de 2023
Programação
Dia 10 de outubro de 2023
Manhã:
10h às 12h
Mesa 1:
Márcio Silveira (UFSB): Música, cultura e (supra)-nacionalismo em Nietzsche
André Itaparica (UFRB): A psicologia filosófica de Nietzsche: mente, agência e psicologia moral
Tarde:
16h15 às 18h
Mesa 2:
Edmilson Paschoal (UFPR): O perspectivismo de Nietzsche e o perspectivismo ameríndio
Ivan Resaffi (UFPA): A criação de uma nova humanidade: Friedrich Nietzsche e Frantz Fanon
Noite:
19h30: Conferência de abertura
Oswaldo Giacoia Junior
Título: Perspectivismos e Formação de mundos: Nietzsche e o perspectivismo ameríndio
Dia 11 de outubro de 2023
Manhã:
10h às 12h
Mesa 3:
Jorge Viesenteineir (UFES): Nietzsche e as emoções: a conjugação entre internalismo e enativismo para a motivação moral
Roberto Barros (UFPA): A impossibilidade de fundamentação normativa em Nietzsche, a partir de perspectivas fisiopsicológicas e linguísticas
Rogério Lopes (UFMG): O que uma taxonomia dos programas genealógicos nos ensina sobre a genealogia nietzschiana?
Tarde:
15h às 16h30: Reunião deliberativa do GT Nietzsche (Núcleo de Sustentação)
17h às 18h30
Lançamento acadêmico
Livro: Nietzsche e o Renascimento
José Nicolao Julião (UFRRJ)
André Itaparica (UFRB)
Edmilson Paschoal (UFPR)
Noite:
19h30: Conferência
Scarlett Marton
Título: Nietzsche, feminismo e misoginia
Apresentação dos projetos de pesquisa (resumos)
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1) Roberto Barros (UFPA)
Título: A impossibilidade de fundamentação normativa em Nietzsche, a partir de perspectivas fisiopsicológicas e linguísticas
Resumo: Como sabido, Nietzsche é um crítico da pressuposição de possibilidade de fundamentação última de perspectivas. Suas interpretações da normatividade sob as óticas dos valores e do poder não apenas significaram a abertura de novos âmbitos de consideração desta questão, como decisivamente evidenciaram a limitação de abordagens eminentemente teóricas com respeito ao tema. A comunicação proposta toma estes aspectos de sua reflexão como pressupostos, mas busca considerá-los a partir dos argumentos fisio psicológicos e linguísticos mobilizados pelo filósofo, visando demonstrar como em Nietzsche a noção de fundamento não apenas é criticada como potencialmente possível ou como perspectiva de poder, mas como em sua filosofia ela é entendida como necessidade vital e projeção metafórica, todavia sem correlato na efetividade.
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2) André Itaparica (UFRB)
Título: A psicologia filosófica de Nietzsche: mente, agência e psicologia moral
Resumo: Minha comunicação pretende apresentar, em linhas gerais, os problemas investigados e os resultados alcançados de minha pesquisa de pós-doutorado, realizada na Universidade do Porto (com supervisão de Mattia Riccardi) e na UFMG (com supervisão de Rogério Lopes). De início, trata-se de responder, a partir das reflexões de Nietzsche, a três questões centrais da filosofia da mente: o problema mente-corpo, a consciência e a agência. Em segundo lugar, trata-se de mostrar como essas respostas são importantes para compreender a gênese da consciência moral a partir de uma série de habilidades cognitivas, processo descrito, na Genealogia da moral, no contexto de um programa naturalista.
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3) José Nicolao Julião (UFRRJ)
Título: Nietzsche e o Renascimento
Resumo: De modo geral, podemos afirmar que há em Nietzsche, pelo menos três momentos de apropriação sobre o Renascimento (Renaissance) no conjunto da sua obra e que esses estão, respectivamente, vinculados, mas não totalmente afinados, com as três fases standard do seu processo de desenvolvimento intelectual. Temos, portanto, uma visão de censura na primeira fase, opondo o movimento ao termo alemão renascimento (Wiedergeburt ou Wiedergeboren) vislumbrado no drama wagneriano; na fase intermediaria, são reconhecidas certas características da representação simbólica do Humanismo renascentista como aliadas ao seu próprio projeto de constituição de um pensamento autêntico e de tipos elevados que, à época, está associado ao espírito-livre (der Freigeist)[1]; e por fim, na última fase, Nietzsche embarca numa radicalização que o movimento lhe propicia para a transvaloração dos valores cristãos a partir do tipo Cesare Borgia, implantando-o, deste modo, no seu próprio projeto da transvaloração de todos os valores.
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4) Rogério Lopes (UFMG)
Título: O que uma taxonomia dos programas genealógicos nos ensina sobre a genealogia nietzschiana?
Resumo: Minha comunicação apresenta, em linhas bastante gerais, o meu projeto de pesquisa do CNPq, que tem duas partes principais: na primeira me proponho a oferecer uma taxonomia dos diversos programas genealógicos historicamente identificáveis e atualmente em voga; na segunda parte procuro caracterizar o modelo de genealogia praticado por Nietzsche, o seu mais ilustre proponente. Parto de uma descrição bastante geral do que unificaria os diversos programas genealógicos e a partir dessa descrição procuro em um primeiro momento da pesquisa (1) apresentar uma taxonomia desses diversos programas (genealogias empiricamente informadas, genealogias conjecturais e genealogias contrafactuais ou ficcionais) mediante a caracterização (a) de seus objetos de investigação (crenças, práticas, conceitos, sentimentos, disposições psicológicas, instituições), (b) de seus métodos e de suas ambições explicativas, (c) de suas pretensões normativas e (d) do tipo de desafios e objeções com que são confrontados. Numa segunda etapa de desenvolvimento do projeto, pretendo defender que em Nietzsche encontramos um modelo acentuadamente híbrido ou pluralista, que combina características dos três programas genealógicos que procuro identificar na primeira parte do projeto. Faço isso respondendo a duas classes distintas de questões: questões de segunda ordem, que dizem respeito a posições metodológicas e metafilosóficas adotadas por Nietzsche (e que serão interpretadas à luz de uma reconstrução de seu contexto intelectual), e questões de primeira ordem, que dizem respeito a disputas exegéticas relacionadas à sua principal contribuição para o campo, ou seja, à sua obra Genealogia da Moral.
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5) Antônio Edmilson Paschoal (UFPR)
Título: O perspectivismo de Nietzsche e o perspectivismo ameríndio
Resumo: Existem vários estudos sobre o perspectivismo em Nietzsche. Estudos que consideram as ocorrências do termo na obra do filósofo, seus desdobramentos, variações semânticas e peculiaridades contextuais, além de avaliarem seu lugar e sua importância para o conjunto daquele pensamento. De fato, esse é um tema bastante explorado e não seria o caso, neste momento, de retomá-lo em suas variações possíveis e imagináveis, considerando, por exemplo, alguma interpretação sobre o tema ou ainda a perspectiva assumida por Nietzsche em seus textos e aquelas que critica. Antes, o propósito deste estudo é de fazer o perspectivismo do filósofo de Weimar dialogar com outros perspectivismos. Um propósito que não abre mão das pesquisas já realizados sobre o tema, mas lança mão delas e das possibilidades interpretativas abertas por elas para direcionar os holofotes para fora dos escritos do filósofo, considerando a possibilidade de colocar a perspectiva de Nietzsche sobre o perspectivismo diante de outras perspectivas sobre o perspectivismo, como é o caso do chamado perspectivismo ameríndio. Uma acepção peculiar de perspectivismo que é tracejada pela pena de Viveiros de Castro e que promove um deslocamento no qual perspectivas são lidas como mundos e que, assim, não avalia diferenças entre perspectivas, mas diferenças entre mundos. Um perspectivismo que se funda, conforme veremos, a partir da pergunta: “qual é o mundo que se expressa em um ponto de vista?” O que não deve ganhar contornos de uma comparação entre perspectivas sobre o perspectivismo, mas, antes, de uma tentativa de fazer essas perspectivas conversarem, dialogarem e, no seu extremo, moverem-se, exibindo-se como Grous, cuja dança aparentemente desconexa pode simbolizar os movimentos que se complementam para indicar os caminhos que levam para fora do labirinto. Para longe do Minotauro.
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6) Ivan Resaffi (UFPA)
Título: A criação de uma nova humanidade: Friedrich Nietzsche e Franz Fanon
Em que medida o pensamento de Friedrich Nietzsche pode ser inserido numa reflexão a propósito da teoria da descolonização de Franz Fanon? É fato, que uma breve referência a literatura sobre o tema revela uma impressionante ausência de trabalhos a esse respeito. Nossa pesquisa visa refletir sobre a possibilidade de aproximação entre os dois pensadores, mas especificamente por meio do que acreditamos ser o cerne de ambas as obras: a necessidade de criação de uma nova humanidade. Pois como diz Fanon:
A descolonização nunca passa despercebida, pois atinge o ser, modifica fundamentalmente o ser, transforma espectadores esmagados pela inessencialidade em atores privilegiados, recolhidos de modo quase grandioso pelos raios luminosos da História. Ela introduz no ser um ritmo próprio, trazido pelos novos homens, uma nova linguagem, uma nova humanidade. A descolonização é indiscutivelmente uma criação de homens novos. Mas essa criação não recebe sua legitimidade de nenhum poder sobrenatural: a “coisa” colonizada torna-se homem no próprio processo através do qual ele se liberta (FANON, Os Condenados da Terra, p. 32).
Há de se reconhecer, portanto, a necessidade de análise a respeito de quais elementos do pensamento de Nietzsche podem exercer um efeito esclarecedor e propulsor da concepção descolonialista de Franz Fanon. Nesse sentido, a tematização de conceitos nietzschianos inerentes à política e à psicologia do homem domesticado e de seu ressentimento abrem espaço para uma análise que deslumbra um universo de questões comuns, que não apenas aproxima os dois pensadores, mas serve de fundamento para a avaliação do efeito contemporâneo de ambos.
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7) Márcio José Silveira Lima (UFSB)
Título: Música, cultura e (supra)-nacionalismo em Nietzsche
Resumo: Dos múltiplos papéis que a música assume na obra de Nietzsche, desde O nascimento da tragédia, o cultural e o nacional podem ser considerados de grande importância, tanto que a eles o filósofo voltará em muitas ocasiões, sobretudo em Além do bem e do mal. Há, nesse sentido, tanto uma preocupação em pensar a música pelo que nela se filia a certas condições de vida, como etnia, línguas, literatura, filosofia, como também pelo que nela se faz compreender certos povos e pátrias. No seu primeiro livro, dedicado à tragédia grega, Grécia e Alemanha assumem um protagonismo, como se fossem dois momentos da música que poderiam ser unidos pelo que havia de comum e afim aos dois povos; dessa união de duas culturas singulares e irmãs, surgiria uma possibilidade de superar uma outra cultura, universal, característica da modernidade, tendo na música, em geral, e na ópera, em particular, a expressão dessa linguagem universal. Após o abandono dessa visão inicial, há uma viragem e mudança de perspectiva, pois a ruptura com as posições iniciais em torno do nacionalismo alemão também representa uma crítica da própria cultura musical germânica, pelo menos desde o romantismo, marco fundamental da identidade alemã no Século XIX. A questão que se coloca é se as reflexões de Nietzsche sobre a música em Além do bem e do mal, especialmente na seção Povos e Pátrias, ao afastar-se da proposta de um nacionalismo cultural e musical, pensaria também uma música que fosse supranacional e europeia. Ou antes, se haveria muitas linguagens musicais sem possibilidade de unificação.
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8) Jorge Viesenteiner (UFES)
Título: Nietzsche e as emoções: a conjugação entre internalismo e enativismo para a motivação moral
Resumo:
O objetivo do trabalho é em defender um modelo plausível à motivação moral em Nietzsche, que consiste em conjugar a hipótese internalista e enativista, a fim de suprir um déficit em psicologia moral, tendo em vista um horizonte mais amplo de florescimento humano. Partindo de um tríplice uso do conceito de motivação em Nietzsche à luz do debate contemporâneo em torno da filosofia das emoções, o modelo conjuga, por um lado, um internalismo emocional que articula duas variáveis: a) emoções informam nossos conceitos e valores morais, e b) demanda endosso sincero dessa economia emocional; por outro lado, e em função de algumas objeções à hipótese internalista – especialmente o problema da amoralidade (acrasia) e o fato de que emoções apresentam motivos mas não uma motivação efetiva à ação – uma versão enativista lato sensu que implica a conjugação processual de 1) efetivas alterações somáticas em um agente sob a forma de prontidão para a ação, bem como 2) um contexto/ambiente que o confronta não apenas para definir de maneira imanente o conteúdo emocional motivador, mas também para trazer à tona uma performance moral dotada de sentido nesse contexto já estruturado. Registre-se que por enativismo lato sensu em Nietzsche, entendo que é possível prescindir da representação para definir o conteúdo de uma emoção (amparado na hipótese do fenomenalismo do mundo interior), mas não de uma condição mais ampla de construção de sentido e significação com vistas ao florescimento. A complementaridade internalista/enativista da motivação moral reivindica normatividade, na medida em que remonta ao caráter processualista da performance moral, prescindindo da substantivação teleológica de um “bem viver”. A conjugação entre internalismo e enativismo, por fim, é vantajosa para defender a hipótese perfeccionista segundo a qual nosso horizonte de perfecção se altera na medida em que nós mesmos nos movimentamos.
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Lançamento acadêmico
José Nicolao Julião
Livro: Nietzsche e o Renascimento
Debatedores: André Itaparica & Antônio Edmilson Paschoal