GT Ontologias Contemporâneas
Salvo algumas poucas e notórias exceções, a filosofia do século XX existiu sob o signo de um consenso. Não obstante as muitas diferenças entre elas, todas as diferentes escolas e tradições encontravam-se de acordo em um ponto: a metafísica, tal como ela existira durante muitos séculos, estava morta. É este juízo, até bem pouco aparentemente definitivo e incontestável, que se vê questionado por algumas tendências nascentes da filosofia contemporânea.
Este questionamento não trata, por óbvio, de reatar com as pretensões pré-críticas de uma metafísica como conhecimento a priori; a ontologia que se faz hoje, embora isto ainda possa soar como um oxímoro para muitos ouvidos, é resolutamente pós-crítica. Ela se define não por um método ou princípio, nem por um objeto determinado (ser enquanto ser, substância etc.), mas pelo seu grau de generalidade: por “ontologia”, entende-se o discurso que trata dos conceitos mais gerais de nosso pensamento. Reabrir a discussão ontológica é, assim, antes o sinal de um compromisso crítico. Resulta de considerar que estes conceitos não são neutros, dados ou absolutos, mas estão, pelo contrário, permanentemente expostos à necessidade de rediscussão – toda vez que a irrupção do novo, do diferente ou do impensado, seja na ciência, na política ou em qualquer outro campo, nos força a repensar o já sabido.
Se é no encontro com o diferente que nos vemos forçados a pensar, não surpreende que esta reanimação da investigação ontológica hoje se alimente do diálogo com a biologia e a física contemporâneas (na obra de autores como Deleuze, Stengers, Protevi, DeLanda), com a ciência cognitiva e a neurociência (em Maturana, Varela, Nöe, Malabou, Metzger, Damasio), com a matemática (Badiou), com a questão da ciência, da técnica e da ontologia social (Latour, Stiegler), no encontro com a “metafísica dos outros” descoberta pela chamada “virada ontológica” na antropologia (Viveiros de Castro, Descola, Maniglier) – tanto quanto no “realismo especulativo” de autores como Meillassoux, Brassier, Grant e Gabriel e na revalorização de autores como Sellars, Bergson, Tarde, Whitehead e Simondon.
O Grupo de Trabalho Ontologias Contemporâneas se propõe a ser um espaço intersecção e debate entre estas diferentes tendências, aberto a abordagens oriundas tanto do campo continental quanto do campo analítico, com o propósito de promover uma cultura de debate, pluralismo e engajamento crítico para além das fronteiras de disciplinas e tradições.