Existe uma Resposta Ockhamiana (ou não Ockhamiana) ao Ceticismo?

Série 3 v. 15 n. 2 • Cadernos de História e Filosofia da Ciência

Autor: Ernesto Perini-Santos

Resumo:

A idéia que a teoria ockhamiana da notitia intuitiva tem conseqüências céticas está presente há algum tempo na literatura secundária. Este tema reaparece num recente artigo de Elizabeth Karger. Segundo Karger, o problema central da teoria ockhamiana é que um julgamento pode me parecer evidente e no entanto ser falso, em virtude da intervenção divina – a célebre notitia intuitiva de re non existente. O Venerabilis Inceptor teria tentado evitar o ceticismo, sem sucesso, estipulando que todo conhecimento evidente é relativo ao verdadeiro. Adão de Wodeham percebeu este ponto e negou ao conhecimento natural a certeza acerca de temas contingentes, isto é, diz Karger, teria reconhecido as conseqüências céticas da teoria ockhamiana. Esta interpretação não me parece correta. Inicialmente, julgamentos evidentes não são, em Ockham, julgamentos que pareçam evidentes, mas assentimentos causados de uma determinada maneira. Pode-se responder que a conseqüência cética permanece, o assentimento a proposições contingentes podendo sempre ser causado de maneira sobrenatural, pela ação divina, o que torna instável o conhecimento humano. Deve-se no entanto observar, por um lado, que a ligação estipulativa entre a cognitio evidente e a verdade não altera a situação cognitiva do homem e, por outro, é possível pensar que se pode ainda falar de conhecimento, com a estabilidade de processos naturais. Com efeito, esta parece ser a sugestão de Wodeham acerca da teoria ockhamiana, e certamente é a uma posição teórica possível. Não apenas Wodeham não tira conseqüências céticas da teoria ockhamiana, como estas não decorrem de maneira inelutável de sua teoria.

Texto Completo: https://www.cle.unicamp.br/eprints/index.php/cadernos/article/view/624

Palavras-Chave: Ceticismo,Conhecimento evidente,Conhecimento

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