Platão e o problema do mal, do Timeu à refutação do paradigma socrático do mal inconsentido nas Leis: há modos de agir consentidamente injustos e maus

V. 38 Jan./Dez. 2024 • Educação e Filosofia

Autor: Maria Dulce Reis

Resumo:

O problema do bem agir e a reflexão sobre a virtude (areté) e o vício (kakía) são presenças marcantes na filosofia de Platão. No Timeu e nas Leis as questões do mal e da ação má recebem uma atenção especial, seja em meio àquela narrativa cosmológica, seja no debate sobre a injustiça, os crimes e as melhores leis para uma cidade. Propomos apresentar a nossa leitura do tema nesses Diálogos, bem como a nossa hipótese sobre a origem do mal em Platão, ambas decorrentes de nossas pesquisas sobre o texto platônico e sua literatura. Platão situa no interior do próprio homem a fonte potencial do mal moral, resultante de má educação e má disposição da alma, no Timeu. Nas Leis, detalha o modo pelo qual uma ação injusta e má é gestada: a formação de um mau caráter (tirania de elementos internos à alma, pela má educação) e de modos de agir mal (consentidos, deliberados). Defendemos que, em Leis IX, Platão realiza uma reformulação do paradigma socrático do mal inconsentido, admitindo que o homem que age de um modo consentido e mal possui tanto o caráter como o modo de agir injusto e mau (861e-862c4).

Abstract:

The problem of doing the right thing and reflecting on virtue (areté) and vice (kakía) are striking presences in Plato's philosophy. In the Timaeus and Laws, the issues of evil and evil action receive special attention, whether in the midst of that cosmological narrative or the debate about injustice, crimes, and the best laws for a city. We propose to present our reading of the theme in these Dialogues and our hypothesis about the genesis of evil in Plato, both arising from our research on the Platonic text and its literature. Plato locates within man himself the potential source of moral evil, resulting from lousy education and nasty disposition of the soul, in the Timaeus. In the Laws, he details how an unjust and bad action is fathered: the formation of an evil character (tyranny of elements internal to the soul, by bad education) and ways of misbehaving (consented, deliberate). We argue that, in Laws IX, Plato performs a reformulation of the Socratic paradigm of not consented evil, admitting that the man who acts in a consenting and evil way possesses both the character and the way of acting unjust and evil (861e-862c4).

Key-words: Evil; Injustice; Platonic ethics. 

ISSN: 1982-596X

DOI: https://doi.org/10.14393/REVEDFIL.v38a2024-70338

Texto Completo: https://seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/view/70338

Palavras-Chave: Mal; Injustiça; Ética platônica.

Educação e Filosofia

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