Nietzsche e Burckhardt: Estado, crueldade da natureza e da cultura
v. 1 n. 2 Jul./Dez. 2010 • Estudos Nietzsche
Autor: Adriana Delbó
Resumo:
As distâncias comumente conferidas entre cultura e barbárie, homem e animal, não contribuem para a interpretação da cultura nos escritos de F. Nietzsche, para quem as mobilizações criativas, oriundas do próprio extravasamento de forças destrutivas, cuidam das condições de criação cultural. Não há um movimento inaugural, nem de progresso da cultura em relação à natureza. Nem sequer domínio de uma em detrimento da outra. Existência e destruição, formação e despedaçamento, dor e alegria, vida e morte, embora passíveis de distinções, são momentos inseparáveis de um mesmo processo. Analogias como essas, comuns também na história da cultura de J. Burckhardt, desenham percursos indispensáveis para as interpretações do pensamento de Nietzsche a respeito da política. A garantia e a regulação de lugares ao domínio e à violência é o que faz desta instituição o instrumento da cultura e para a cultura. Em vista disso, neste trabalho pretende-se tratar das preocupações nietzschianas com a cultura à luz das contraposições entre Estado grego antigo e Estado democrático moderno, feitas de modo tão próximo por ele e por J. Burckhardt. Distanciar-se do risco de enxergar nestas contraposições – bem como em outras considerações – recomendações ou extirpações de modelos de governo requer compreender os critérios de Nietzsche para análise da política.
Abstract:
The distances usually put between culture and barbarism, man and animal, do not contribute to the interpretation of culture in the writings of F. Nietzsche, for whom the creative mobilizations, coming from the very overflow of destructive forces, are responsible for the conditions of cultural creation. There is no starting movement or cultural progress in relation to nature, not even the supremacy of one to the detriment of the other. Existence and destruction, formation and disintegration, pain and joy, life and death, although subject to distinctions, are inseparable moments of the same process. Such analogies, also common in J. Burckhardt’s history of culture, design indispensable paths for interpreting Nietzsche’s thoughts about politics. The guarantee and the regulation of places to the control and the violence is what turns this institution into the instrument of the culture and for the culture. In view of that, this work intends to approach the Nietzschean worries about culture in the light of the comparisons between old Greek State and modern democratic State, carried out by Nietzsche and Burckhardt in very similar ways. In order to avoid the risk of seeing recommendations or condemnations of government models based on these contrapositions or any other considerations, we have to understand Nietzsche’s criteria for political analysis.
Texto Completo: http://www2.pucpr.br/reol/index.php/ESTUDOSNIETZSCHE?dd1=5024&dd99=view
Palavras-Chave: State,Nature, Culture,Burckhardt, Estado, Nat
Estudos Nietzsche
A revista Estudos Nietzsche é uma publicação semestral do Grupo de Trabalho Nietzsche (GT-Nietzsche) da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF) em parceria com a Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Sua proposta, alinhada à ideia que levou à criação do GT-Nietzsche, é incentivar a investigação e o debate sobre a contribuição do pensamento de Nietzsche, bem como a sua articulação com questões da atualidade. Para tanto, leva a público artigos sobre o pensamento do filósofo alemão, traduções de textos inéditos, bem como apresentações (resenhas) de obras recentes relevantes sobre Nietzsche, constituindo-se num ambiente de debate para pesquisadores especialistas da filosofia nietzschiana e numa fonte privilegiada para estudiosos interessados no pensamento do filósofo alemão. Os textos publicados seguem o exigido rigor filosófico e metodológico no que diz respeito ao tratamento dos escritos do filósofo alemão, observando aspectos como a inserção em determinados debates já estabelecidos, o atual estágio das pesquisas sobre o tema trabalhado, a periodicidade dos textos empregados do filósofo, bem como o uso de material fidedigno e já submetido à crítica, no que diz respeito às fontes, fragmentos póstumos, cartas, etc.