De Genesi ad litteram 4: Os dias da criação e o descanso de Deus
v. 7, n. 1 (2022) Dossiê Filosofia Medieval • Perspectivas - Revista de Filosofia
Autor: Emmanuel Bermon
Resumo:
O início do Gênesis é uma mise en intrigue, para falar como Ricœur, pois revela uma configuração da criação do mundo através do ato narrativo. Em De genesi ad litteram, Agostinho se esforça para fornecer uma interpretação literal desse texto para alcançar uma compreensão filosófica da própria criação. O livro 4 concentra-se em Gn 2, 1-3, que menciona a conclusão da criação no sexto dia, e o descanso de Deus no dia seguinte e explica tanto textual quanto filosoficamente a primeira narrativa da criação (Gn 1, 1-2, 4). Agostinho concentra todos os seus esforços na noção-chave de “dia”: a questão do significado literal dos “dias” da criação impulsiona todo o desenvolvimento do Livro 4, em três partes principais. Em primeiro lugar, Agostinho retoma sua hipótese de que esses “dias” não são temporais, mas se referem à constituição ontológica das criaturas e tenta explicar por que eram seis (§1-14) (primeira parte). Em seguida, ele se pergunta longamente sobre o descanso de Deus, no sétimo dia (§15-38), que lhe oferece a oportunidade de “explicar toda a sua metafísica da relação da criatura com Deus e sua concepção do próprio Deus” (Solignac). Além disso, ele lida com duas peculiaridades do sétimo dia, a saber, que não tem tarde e que Deus não fez nada naquele dia (segunda parte). A segunda peculiaridade o obriga a reformular radicalmente sua explicação da natureza de todos os dias da criação (§39-45) (terceira parte). Em poucas palavras, Agostinho explica esses dias referindo-os à criatura espiritual (ou seja, o anjo), em cujo conhecimento todos os tipos de criaturas são criados por turnos, mesmo antes de existirem separadamente em si mesmos. Quanto ao dia, à tarde e à manhã, simbolizam as diversas modalidades deste conhecimento (§39-45). No entanto, podemos conceder esta interpretação se admitirmos (1) que a criatura espiritual sabe tudo simultaneamente (§46-50) e (2) que Deus criou tudo simultaneamente (§51-56)?
Abstract:
The beginning of Genesis is a mise en intrigue, to speak with Paul Ricœur, as it discloses a configuration of the creation of the world through the narrative act. In De genesi ad litteram, Augustine endeavors to provide a literal interpretation of this text in order to acquire a philosophical understanding of creation itself. Book 4 focuses on Gen 2, 1-3, which mentions the completion of the creation on the sixth day, and God’s rest the next day, and accounts both textually and philosophically for the first narrative of creation (Gen 1, 1-2, 4). Augustine concentrates all his efforts on the key notion of “day”: the question of the literal meaning of the “days” of the creation drives the whole development of Book 4, in three main parts. First of all, Augustine takes up his hypothesis that these “days” are not temporal but refer to the ontological constitution of the creatures and he tries to explain why they were six (§1-14) (first part). Then he wonders at length about God’s rest, on the seventh day (§15-38), which offers him the opportunity “to explain all his metaphysics of the relation of the creature to God and his conception of God himself” (Solignac). Moreover, he copes with two peculiarities of the seventh day, namely that it has no evening and that God made nothing that day (second part). The second peculiarity forces him to radically recast his explanation of the nature of all the days of the creation (§39-45) (third part). In a nutshell, Augustine accounts for these days by referring them to the spiritual creature (i.e. the angel), in whose knowledge all kinds of creatures are created by turns, even before they exist separately in themselves. As regards the day, the evening and the morning, they symbolize the different modalities of this knowledge (§39-45). However: can we grant this interpretation if we admit (1) that the spiritual creature knows everything simultaneously (§46-50) and (2) that God created everything simultaneously (§51- 56)?
ISSN: 2448-2390
DOI: https://doi.org/10.20873/rpv7n1-28
Texto Completo: https://sistemas.uft.edu.br/periodicos/index.php/perspectivas/article/view/14541/20287
Palavras-Chave: Agostinho. Gênese. Criação do mundo. Descanso de Deus. Conhecimento angêlico.
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