A IMPOSSIBILIDADE DO TESTEMUNHO E O LIMITE ÉTICO EM GIORGIO AGAMBEN
V. 12 N. 20 (2019): Jan./Jun 2019 • Polymatheia - Revista de Filosofia
Autor: Paloma Custódio Soares
Resumo:
Este trabalho tem como objetivo compreender a impossibilidade do testemunho e o limite ético nos campos de concentração a partir da obra “O que resta de
Auschwitz” de Giorgio Agamben. Nesse artigo iremos trabalhar o conceito de testemunho enquanto sobrevivente do campo. É por meio dele que Agamben almeja descrever a lacuna que existe entre a testemunha sobrevivente e a testemunha integral dos campos de concentração nazistas, isto é, aqueles que sucumbiram à experiência. Tal lacuna torna-se a própria impossibilidade de relatar os fatos ocorridos dentro do campo, pois a testemunha integral são os mulçumanos, os indivíduos que viveram o horror do em sua totalidade, e por isso, incapazes de testemunhar. A possibilidade de o sobrevivente falar, implica no fato de que não atravessaram a verdadeira experiência do campo. Porém, são eles os únicos capazes de testemunhar no lugar das verdadeiras testemunhas do campo, aqueles que vivenciaram o horror em sua plenitude. Em função disso, a experiência limite do campo acarreta no fim do princípio ético que provém da ordem jurídica suplantada pelo Estado de exceção. O poder de vida e morte que o soberano detém de seus súditos é expresso no campo de maneira inequívoca. A vida nua no campo é a experiência limite pela qual o muçulmano (o Homo Sacer do campo) atravessa como forma de manutenção da ordem e dos princípios éticos e morais do status quo. Por isso, o limite do ético encontra seu fim na figura do muçulmano. Ou melhor, só podemos falar de ética se incluirmos no seu núcleo a figura desumanizada do muçulmano. Ocorre a partir dele, pois dele é retirado qualquer traço de humanidade, e transformado em inumano. Por fim, buscamos concluir apontando a relação entre o testemunho e o limite ético dentro do campo, evidenciando o testemunho como forma de radicalizar e, com isso, solucionar o impasse da ética no interior do campo.
Abstract:
This work has as objective understands the impossibility of the evidence and the ethical limit in the concentration fields from the work “that remains of Auschwitz” of Giorgio Agamben. In this article we willbe going to work the evidence concept while survivor of the field. It is through him that Agamben aims to describe the gap between the surviving witness and the integral witness of the nazi concentration camps, that is, those who have succumbed to experience. Such a gap becomes the very inability to report the events occurring within the camp, for the integral witness is the Muslims, the individuals who have lived the horror of the whole, and therefore unable to witness. The possibility of the survivor speaking implies the fact that they did not go through the real experience of the field. But they alone are able to witness in the place of the true witnesses of the field, those who have experienced the horror in its fullness. Because of this, the limiting experience of the field entails the end of the ethical principle that comes from the legal order supplanted by the State of exception. The power of life and death which the sovereign holds of his subjects is expressed unequivocally in the field. Bare life in the countryside is the limiting experience by which the Muslim (Homo Sacer of the field) crosses as a form of maintaining order and ethical and moral principles of the status quo. Therefore, the limit of the ethical finds its end in the figure of the Muslim. Or rather, we can only speak of ethics if we include in its nucleus the dehumanized figure of the Muslim. It occurs from it, for from it any trace of humanity is removed, and transformed into inhumanity. Finally, we seek to conclude by pointing out the relation between the testimony and the ethical limit within the field, evidencing testimony as a way of radicalizing and, with this, to solve the impasse of ethics within the field.
ISSN: 1984-9575
Texto Completo: https://revistas.uece.br/index.php/revistapolymatheia/article/view/5783
Palavras-Chave: testemunho, campo, ética, muçulmano.
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A Polymatheia - Revista de Filosofia (Qualis B4) é uma publicação criada pelo Curso de Mestrado Acadêmico em Filosofia da Universidade Estadual do Ceará, como periódico científico, da área de filosofia, voltada para a publicação de artigos de graduados/as, pós-graduandos/as e pós-graduados/as em Filosofia. Organizada diretamente pelos próprios estudantes e professores do Centro de Humanidades, Curso de Graduação em Filosofia.