A relação entre studium e punctum na fotografia a partir do ensaio "A câmara clara", de Roland Barthes: apontamentos

Inconfidentia v.5, n.10 • Revista de Filosofia Inconfidentia

Autor: SANTOS Jr., Iracy Ferreira dos

Resumo:

Este artigo apresenta um comentário introdutório sobre o que motiva o interesse de Roland Barthes pela fotografia a partir de seu ensaio A câmara clara: nota sobre a fotografia. Objetiva demonstrar como na imagem fotográfica se estabelece a relação entre os operadores studium e punctum e como eles norteiam o olhar antropológico do escritor francês sobre ela ao revelar o nexo entre morte e fotografia. Em primeiro lugar, mostra como Barthes se volta para fotografia tomado por um “desejo ontológico” na busca pela sua essência. Em seguida, apresenta as diferenças entre esses operadores e seus modos de coabitar na mesma fotografia, de modo que o studium seria o estudo do mundo, a cultura de um saber fotográfico sedimentado, e o punctum, um detalhe que atrai, que punge e mortifica o espectador e vem como suplemento, mesmo já estando sempre presente na fotografia. Por fim, elucida a relação existente entre morte e fotografia, através do retorno de Barthes a fotos privadas – momento marcado pelo luto da perda de sua mãe –, ao ampliar a noção de punctum à condição de certificação da presença, sintetizado no noema “isso-foi” [ça a été], ou seja, naquilo capaz de abrir um campo cego na imagem, torná-la pensativa, o lugar de uma verdade subjetiva e de conduzir o espectador ao êxtase fotográfico, ao espanto que visa o despertar da intratável realidade.

Abstract:

This article presents an introductory comment on what motivates Roland Barthes’ interest in photography from his essay La chambre claire: note sur la photographie. It aims to demonstrate how in the photographic image is established the relationship between the operators “studium” and “punctum” and how they guide the anthropological look of the French writer on it when revealing the nexus between death and photography. Firstly, it shows how Barthes turns to photography taken by an “ontological desire” in the pursuit of its essence. It then presents the differences between these operators and their ways of cohabiting in the same photograph, in such a way that “studium” would be the study of the world, the culture of sedimented photographic knowledge, and the “punctum”, a detail that attracts, that pricks and mortifies the spectator and comes as a supplement, even being present always in the photography. Finally, it clarifies the relationship between death and photography, through the return of Barthes to private photos – a moment marked by the mourning the loss of his mother – by extending the notion of “punctum” to the condition of certification of presence, synthesized in the noema “that-was” [ça a été], that it is able to open a blind field in the image, make it thoughtful, and to lead the viewer to photographic ecstasy, to the amazement that aims at the awakening of the intractable reality.

ISSN: 2318-8138

Texto Completo: http://inconfidentia.famariana.edu.br/wp-content/uploads/2021/08/10-7.pdf

Palavras-Chave: Barthes; Fotografia; Punctum; Studium; Morte.

Revista de Filosofia Inconfidentia

A Revista de Filosofia InconΦidentia surgiu como veículo de divulgação e incentivo à pesquisa da Faculdade  “Dom Luciano Mendes – DLM”. O nome recebido está relacionado ao fato da instituição se situar na região dos inconfidentes em Minas Gerais – Ouro Preto e Mariana, principalmente. Ela possui caráter filosófico e tem periodicidade de seis meses. O objetivo é tanto divulgar as pesquisas docentes realizadas no sítio da instituição como dialogar com articulistas provenientes de outras instituições de ensino superior da área, sejam nacionais ou estrangeiras. A InconΦidentia recebe artigos originais, frutos de pesquisas filosóficas, resenhas de livros e tradução de textos. 

Sobre os organizadores da Revista de Filosofia InconΦidentia:

EDVALDO ANTONIO DE MELO é doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), bolsista Capes (programa DPE), com pesquisa na área da ética. Mestre em História da Filosofia pela mesma Universidade, tendo realizado pesquisa relacionada à ética e à linguagem em Emmanuel Lévinas. Pós-graduação lato-sensu pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP - MG). Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Superior de Juiz de Fora (CESJF). Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Diretor Acadêmico, Coordenador do Curso de Filosofia e Professor na Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM / Mariana-MG). Integra o grupo de pesquisa Fenomenologia e genealogia do corpo da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE / Belo Horizonte-MG). Possui experiência docente e de pesquisa no ensino superior e se interessa por questões referentes à ética, à linguagem, à ontologia, à metafísica, à fenomenologia e à literatura. Membro do CEBEL: Centro Brasileiro de Estudos Levinasianos.

MAURÍCIO DE ASSIS REIS é doutor em Filosofia Contemporânea pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Estética e Filosofia da Arte pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), especialista em Filosofia também pela UFOP e bacharel em Filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Mariana, atual Faculdade Dom Luciano Mendes; sua pesquisa refere-se às relações entre experiência , linguagem e história e seu estatuto na concepção da unidade da obra de Theodor W. Adorno. Atualmente, é Professor Assistente II pela Faculdade Dom Luciano Mendes, atuando no curso de Filosofia; Professor Nível I, Grau A, pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), atuando junto ao Departamento de Ciências Humanas da unidade de Barbacena e nos cursos de Pedagogia e Ciências Sociais; e Professor pela Univiçosa, atuando nas áreas de filosofia e ciências sociais no curso de Direito e na área de bioética nos cursos de Fisioterapia e Odontologia. É autor de “Adorno: estudos sobre experiência e pensamento” e organizador de “Entre o ser e o não-ser”; membro permanente do Grupo de Trabalho (GT) de Teoria Crítica da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF).

CRISTIANE PIETERZACK é doutora em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. É Perita em Magistério Eclesial e Normativa Canônica pelo Studium de Roma (2015). Mestra em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (2013) com especialização em Filosofia Prática. Mestra em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (2009), com ênfase em fenomenologia e hermenêutica. Graduada em Filosofia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (2005). Tem experiência de docência universitária e de práxis filosófica. É pesquisadora na área de hermenêutica, ética e ciências da família. É coordenadora do Centro de Estudos sobre a família, da Domus ASF.