Memórias de Adriano e o paradoxo da literatura

Inconfidentia, v.6, n.11 • Revista de Filosofia Inconfidentia

Autor: PIETERZACK, Cristiane

Resumo:

 A obra literária Memórias de Adriano (1951), de Marguerite Yourcenar, revela que a arte literária, analogamente às ciências da memória nas suas mais diversas modalidades (história, paleografia, arquivologia, semiótica...) é extremamente paradoxal no sentido de que, por sua constituição, mantém no “esquecimento” o fundo originário do qual provém, embora “jogue” a partir dele, graças a ele e diante dele. O problema em questão é saber se, quando interpreta, discursa e repropõe um evento, a literatura também o engloba ou dele se distancia. Nossa hipótese de trabalho é que a literatura não engloba o evento que a produz, de modo que tal evento, embora esteja a montante da obra, não se identifica com ela nem tampouco se justifica através dela. A tese presente neste artigo, portanto, é a do caráter paradoxal da literatura pelo fato de não poder basear-se em seus próprios pressupostos. Seguindo o movimento mnemônico e literário de Memórias de Adriano, nosso objetivo é mostrar como, por trás da memória ligada ao intelecto, também deve existir uma “outra” memória, uma memória enquanto “traço” que não ilustra um evento, mas dele dá testemunho. A metodologia deste trabalho consiste muito simplesmente em tomar o título da obra de Yourcenar como tema de reflexão filosófica.

Abstract:

L’opera letteraria Memorie di Adriano (1951), di Marguerite Yourcenar, rivela che l’arte letteraria, analogamente alle scienze della memoria nelle sue modalità più diverse (storia, paleografia, archivistica, semiotica...) è estremamente paradossale nel senso che, per sua stessa costituzione, mantiene nell’“oblio” lo sfondo originario da cui proviene, anche se “gioca” a partire da esso, grazie a esso e davanti a esso. Il problema in questione è se la letteratura, quando interpreta, dialoga e ripropone un evento, lo contiene anche, o se ne prende le distanze. La nostra ipotesi di lavoro è che la letteratura non contiene l’evento che la produce, per cui tale evento, sebbene sia a monte dell’opera, non si identifica con essa, né si giustifica attraverso di essa. La tesi presente in questo articolo, quindi, è quella del carattere paradossale della letteratura per il fatto che non può fondarsi su i suoi propri presupposti. Seguendo il movimento mnemonico e letterario di Memorie di Adriano, il nostro obiettivo è mostrare come, dietro la memoria legata all’intelletto, ci debba essere anche una memoria “altra”, una memoria come “traccia” che non illustra un evento, ma ne dà testimonianza. La metodologia di questo lavoro consiste semplicemente nel prendere il titolo dell’opera della Yourcenar come tema di riflessione filosofica.

ISSN: 2318-8138

Texto Completo: http://inconfidentia.famariana.edu.br/wp-content/uploads/2022/03/11-1.pdf

Palavras-Chave: Memória, Literatura, Filosofia, Paradoxo.

Revista de Filosofia Inconfidentia

A Revista de Filosofia InconΦidentia surgiu como veículo de divulgação e incentivo à pesquisa da Faculdade  “Dom Luciano Mendes – DLM”. O nome recebido está relacionado ao fato da instituição se situar na região dos inconfidentes em Minas Gerais – Ouro Preto e Mariana, principalmente. Ela possui caráter filosófico e tem periodicidade de seis meses. O objetivo é tanto divulgar as pesquisas docentes realizadas no sítio da instituição como dialogar com articulistas provenientes de outras instituições de ensino superior da área, sejam nacionais ou estrangeiras. A InconΦidentia recebe artigos originais, frutos de pesquisas filosóficas, resenhas de livros e tradução de textos. 

Sobre os organizadores da Revista de Filosofia InconΦidentia:

EDVALDO ANTONIO DE MELO é doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana (PUG), bolsista Capes (programa DPE), com pesquisa na área da ética. Mestre em História da Filosofia pela mesma Universidade, tendo realizado pesquisa relacionada à ética e à linguagem em Emmanuel Lévinas. Pós-graduação lato-sensu pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP - MG). Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Superior de Juiz de Fora (CESJF). Bacharel e Licenciado em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG). Diretor Acadêmico, Coordenador do Curso de Filosofia e Professor na Faculdade Dom Luciano Mendes (FDLM / Mariana-MG). Integra o grupo de pesquisa Fenomenologia e genealogia do corpo da Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE / Belo Horizonte-MG). Possui experiência docente e de pesquisa no ensino superior e se interessa por questões referentes à ética, à linguagem, à ontologia, à metafísica, à fenomenologia e à literatura. Membro do CEBEL: Centro Brasileiro de Estudos Levinasianos.

MAURÍCIO DE ASSIS REIS é doutor em Filosofia Contemporânea pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), mestre em Estética e Filosofia da Arte pela Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), especialista em Filosofia também pela UFOP e bacharel em Filosofia pela Faculdade Arquidiocesana de Mariana, atual Faculdade Dom Luciano Mendes; sua pesquisa refere-se às relações entre experiência , linguagem e história e seu estatuto na concepção da unidade da obra de Theodor W. Adorno. Atualmente, é Professor Assistente II pela Faculdade Dom Luciano Mendes, atuando no curso de Filosofia; Professor Nível I, Grau A, pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG), atuando junto ao Departamento de Ciências Humanas da unidade de Barbacena e nos cursos de Pedagogia e Ciências Sociais; e Professor pela Univiçosa, atuando nas áreas de filosofia e ciências sociais no curso de Direito e na área de bioética nos cursos de Fisioterapia e Odontologia. É autor de “Adorno: estudos sobre experiência e pensamento” e organizador de “Entre o ser e o não-ser”; membro permanente do Grupo de Trabalho (GT) de Teoria Crítica da Associação Nacional de Pós-Graduação em Filosofia (ANPOF).

CRISTIANE PIETERZACK é doutora em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma. É Perita em Magistério Eclesial e Normativa Canônica pelo Studium de Roma (2015). Mestra em Filosofia pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (2013) com especialização em Filosofia Prática. Mestra em Filosofia pela Universidade Federal de Santa Maria (2009), com ênfase em fenomenologia e hermenêutica. Graduada em Filosofia pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (2005). Tem experiência de docência universitária e de práxis filosófica. É pesquisadora na área de hermenêutica, ética e ciências da família. É coordenadora do Centro de Estudos sobre a família, da Domus ASF.