A DISTINÇÃO FORTE ENTRE ATRIBUTOS PRINCIPAIS EM DESCARTES E A SUTIL INDIFERENÇA ENTRE ATRIBUTOS EM ESPINOSA

Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia - v. 13 n. 34 (2021) • Revista Kínesis

Autor: Iago Orlandi Gazola

Resumo:

Descartes afirma que cada substância tem um atributo principal do qual todos os seus atributos secundários dependem. A substância corpórea possui o atributo principal da extensão, do qual dependem a figura e até mesmo o movimento. Por outro lado, a substância pensante possui o atributo principal do pensamento, do qual dependem a imaginação, a sensação e a vontade. O que é corpóreo não pode apresentar o atributo principal do pensamento e vice-versa. Para ele, a alma é indivisível; o corpo, divisível. Uma coisa pensante não pode ser extensa e uma coisa extensa não pode ser pensante, pois não pode ser indivisível e divisível ao mesmo tempo. Tal argumentação encontra problemas. Espinosa oferece um contra-argumento com o qual pretende atingir em cheio a tese da exclusividade de atributo. Espinosa propõe uma distinção fraca de atributos, baseada somente na independência de concepção entre eles. A incomunicabilidade entre os atributos, dirá Espinosa, não é suficiente para o estabelecimento da incompatibilidade entre eles. Nosso objetivo é mostrar que Espinosa opõe-se a Descartes a respeito desse ponto valendo-se de argumentos que parecem encontrar certo respaldo em passagens do próprio texto cartesiano nos quais Descartes parece contradizer-se.

Abstract:

According to Descartes each substance has one principal attribute on which all its other features depend. On one hand, the extended substance has the principal attribute of extension, on which its figure and even movement depend. On the other hand, the thinking
substance has the principal attribute of thought, on which imagination, sense and will depend. Descartes claims that each substance has one principal attribute. What is extended cannot have the attribute of thought and vice versa. Such attribute exclusivism of substance is due to a strong distinction between body and soul assumed by Descartes, according to which body is composite, divisible, finite, i. e., the complete opposite of the soul. If a substance had these two attributes it would have two different natures, a divisible one and an indivisible one. Spinoza disagrees with Descartes on this strong distinction of attributes. With his refutation of it, Spinoza disproves the only point that gives support to Descartes’ exclusivism of attribute, which allows him to assume that one substance can have more than one attribute. The aim of this paper is to show that Spinoza undermines Descartes’ account on this point based upon an argument that seems to correspond to a certain extent to some passages of Descartes’ own texts in which Descartes seems to contradict himself.

ISSN: 1984-8900

DOI: https://doi.org/10.36311/1984-8900.2021.v13n34.p207-230

Texto Completo: https://revistas.marilia.unesp.br/index.php/kinesis/article/view/12144

Palavras-Chave: Substância, Atributos, Deus, Ontologia

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