A gênese da causalidade física

Vol. 2, No. 1 • Scientiae Studia

Autor: Michel Paty

Resumo:

As noções ou categorias de causalidade e determinismo acompanharam a formação das ciências modernas e, em primeiro lugar, da física. O uso corrente em nossos dias tende freqüente e erroneamente a confundi-las, nas reconsiderações feitas pela própria física. Propomo-nos esclarecer aqui a primeira dessas noções, mais precisamente a de causalidade física, examinando sua elaboração no início da dinâmica, por meio das primeiras operações e conceituações que acompanham a matematização da mecânica, antes dela ser estendida à física em geral. Veremos como, apoiando-se inteiramente em um aspecto filosófico tradicional da idéia de causalidade (aquele de "causa eficiente"), a causalidade física se estabelece em ruptura com o sentido metafísico que lhe era anteriormente associado. Mais do que no Principia de Newton, é na reelaboração por d'Alembert, no Traité de dynamique, das leis do movimento formuladas como princípios e expressas pelo cálculo diferencial, que a idéia de causalidade física é expressamente considerada como indissociável de seu efeito, que é a mudança de movimento. Os respectivos pensamentos de Newton e de d'Alembert sobre as noções de causa e de força estão a esse propósito em oposição, diferindo quanto à natureza propriamente física dessa mudança, considerada por d'Alembert como imanente ao movimento, segundo a causa circunscrita por seu efeito, enquanto ela permanece matemática e metafísica na concepção newtoniana da força externa, como substituto matemático das causas, tal como havia sido proposto antes da mecânica analítica de Lagrange. Foi a concepção física herdada de d'Alembert, que prevaleceria a seguir por meio da mecânica analítica lagrangiana, que permitiu reintegrar física e racionalmente o conceito de força em sua transcrição diferencial euleriana.

Abstract:

The notions or categories of causality and determinism have accompanied the formation of modern sciences, and primarily those of physics. The current nowaday use tends often, but wrongly, to get them identifed in the reevaluations to which they are submitted in physics itself. In this work we intend to clarify the first of these notions, more precisely physical causality, by following its elaboration with the beginnings of dynamics, through its first utilizations and conceptualizations in the making of the mathematization of mechanics, before being extended to physics in a general way. We will see how, while having been supported by one of the traditional philosophical aspects of the idea of causality (that one of "efficient cause"), physical causality breaks with the metaphysical meaning that was previously attached to it. Rather more than in the Newton's Principia, it is in the re-elaboration made by d'Alembert, in his Treatise of dynamics, of the laws of motion considered as principles, and expressed by differential calculus, that the idea of physical causality is explicitly considered indissociably of its effect, that is the change of motion. The respective thoughts of Newton and d'Alembert on the notions of cause and force are, in this respect, in opposition with regard to the properly physical nature of this change. The change of motion was viewed by d'Alembert as immanent to motion, for its cause could be circumscribed by its effect, whereas it remained mathematical and metaphysical in the newtonian conception of the external force taken as a mathematical substitute of the cause, which was the common way to consider forces before Lagrange's analytical mechanics. It was the physical conception inherited from d'Alembert that should then prevail through lagrangean analytical mechanics that permitted to re-integrate physically and rationally the concept of force in its eulerian differential transcription.

DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662004000100002

Texto Completo: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662004000100002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt

Palavras-Chave: Causalidade,Causalidade física,Causa eficient

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