O cadastro dos saberes: figuras do conhecimento e apreensão do real
Vol. 4, No. 4 • Scientiae Studia
Autor: Claude Imbert
Resumo:
O estudo de caso é hoje um referencial privilegiado para as ciências sociais. Redesenha-se toda uma epistemologia, da qual a primeira característica é configurar um conjunto de acontecimentos sem temor de aplicar-lhe uma diversidade de disciplinas razoavelmente complementares e fecundas. Trata-se de um saber empírico que não procede por saturação documental, mais interessado na justeza de sua abordagem do que na decisão. Resultante de modelizações diferentes, ele dará seu lugar à dimensão jurídica sob o efeito da qual as atividades humanas adquirem, às vezes, sua forma final, mas ter-se-á renunciado a uma convergência de índices em direção a um abrigo no qual se unificaria o sentido dos comportamentos humanos. Eis por que devemos libertar-nos de alguns hábitos epistemológicos implicados no vocabulário jurídico, ou casuístico, do caso. Daí o esboço de uma história epistemológica no curso da qual, a partir do galileanismo civil, as atividades humanas adquiriram uma visibilidade específica e uma representação delas mesmas. Após o Iluminismo, a história foi a do lento divórcio entre o juízo da experiência, herdeiro das fenomenologias naturalistas, e esse novo saber. A ruptura se fez ao umbral da antropologia. Tratava-se então de compor um processo de objetivização dos comportamentos com asubjetivização daquilo que lhes confere inteligência e normatividade, incluindo nisso os termos nos quais são ditos e pensados. Deve-se, portanto, aceitar que as ciências humanas retiram sua força da incompletude de um processo do qual elas mesmas fazem parte. Elas mantêm seu movimento criador de rivalizar com um processo de modernidade também ele inacabado. Sua não-saturação será considerada a seu favor.
Abstract:
The case study is a framework privileged by the social sciences today. A whole epistemology is redrawn here. Its primary feature is to shape a set of events without fear of applying a diversity of reasonably complementary and vital disciplines. It concerns an empirical knowledge that does not proceed by documentary saturation but is interested more by the exactness of its approach than by decision. A result of different modelisations, it will give its place to the juridical dimension under whose impact human affairs sometimes take their final form. But the convergence of clues towards a center where the meaning of human behaviours will be unified will have been abandoned. That is why it was necessary to free oneself from some epistemological habits implied in the juridical vocabulary, or casuistry, of the case. From here, follows the outline of an epistemological history in the course of which, from civil galileism, human activities acquired a specific visibility and a representation of themselves. After the Enlightenment, this history was that of a slow divorce between the judgement of experience, heir of naturalist phenomenologies, and this new knowledge. The break occurred on the edge of anthropology. It becomes then a question of constituting a process of objectification of behaviours and subjectification of that which gives them intelligence and normativity, including the terms in which they are stated and thought. One must accept that human sciences draw their strenght from the incompleteness of a process of which they are a necessary part. They maintain their creative movement to rival a process of an equally incomplete modernity. Their non-saturation will be considered in their favor.
DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1678-31662006000400002
Texto Completo: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1678-31662006000400002&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Palavras-Chave: Estudo de caso,Epistemologia das ciências hum
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