HISTÓRIA DO CONCEITO DE HUMANITAS: DA MITOPOÉTICA À ALLEGORESIS ESTOICA
Síntese - Revista de Filosofia v.48, n.152 • Síntese - Revista de Filosofia
Autor: Cleber Ranieri Ribas de Almeida
Resumo:
Neste artigo proponho-me reconstituir a trajetória etimológica, filológica e experiencial do conceito de humanitas desde sua origem estoica no Círculo Cipiônico até sua assimilação pela tradição imperial panegírica augustana. O propósito é compreender porque, desde a origem, tal conceito apresenta um núcleo semântico de significação inconstante, volátil e aberto. Tal indeterminação semântica, como tentarei provar, adveio do progressivo processo de degenera- ção das representações mitopoéticas do homem em favor de uma compreensão noética. Posteriormente, esta compreensão noética fora assimilada pelo gênio estoico-romano na forma de uma representação alegórica (allegoresis) cujo con- teúdo semântico tornara-se meramente linguístico e autorreferente. Os símbolos da experiência foram assim reduzidos a meros jogos de linguagem. Nesta lógica, a compreensão do conceito de humanitas em sua origem depende menos de uma investigação acerca das evidências filológicas quanto ao uso da palavra nos textos canônicos e mais de uma investigação acerca das experiências que possibilitaram a formação de uma consciência da unidade simbólica da humanidade enquanto grandeza política de referência.
Abstract:
This paper aims to reconstruct the etymological, philological and expe- riential trajectory of the concept of humanitas from its Stoic origin in the Sci- pionic Circle to its assimilation by the Augustinian imperial tradition (especially in panegyric texts). My purpose is to understand why, from the beginning, such a concept has presented a semantic core whose meaning is inconstant, volatile and open. I will try to prove that this semantic indeterminacy comes from the progressive degeneration process of the mythopoetic representations of man in favor of a noetic understanding. This noetic understanding was later assimilated by the Roman Stoicism in the form of an allegorical representation (allegoresis) whose semantic content had become merely linguistic and self-referential. The symbols of experience were thus reduced to mere language games. Accordingly, the understanding of the original concept of humanitas depends less on an investigation about the philological evidence regarding the use of the word in canonical texts and more on an investigation about the experiences that made possible the formation of an awareness of the symbolic unity of humanity as political reference.
ISSN: 2173-8379
DOI: 10.20911/21769389v48n152p807/2021
Texto Completo: http://www.faje.edu.br/periodicos/index.php/Sintese/article/view/4441/4732
Palavras-Chave: Humanitas. Humanismo. Círculo Cipiônico. Mos Maiorum. Estoicismo.