Uma questão de vaidade: relações entre Nietzsche e Mandeville

v. 44 n. 1 (2021) • Trans/Form/Ação: Revista de Filosofia da Unesp

Autor: Ricardo de Oliveira Toledo

Resumo:

O artigo discute aspectos de relativa congruência entre as críticas da moral em Nietzsche e Mandeville, atentando principalmente para a questão da vaidade. Considera-se que Nietzsche e Mandeville, guardadas as devidas peculiaridades, foram imoralistas em suas respectivas épocas. Através de pesquisas nas obras publicadas e em fragmentos póstumos, sabe-se que Nietzsche conhecia o pensamento de Mandeville. Porém, não se pôde verificar a extensão das leituras que o filósofo alemão fez de seu antecessor. O livro pesquisado de Mandeville foi A Fábula das Abelhas: Vícios privados, benefícios públicos. Devido à extensão da obra de Nietzsche, a discussão filosófica nesse filósofo centrou-se nos dois volumes de Humano, demasiado humanoAurora e A Gaia Ciência. Mandeville entendia que a existência e não a revogação dos vícios era a mola propulsora do enriquecimento da sociedade. Um dos traços da natureza humana é a vaidade. Não é a humildade que subjaz às ações virtuosas, mas o orgulho, bem como a vaidade. A virtude moral seria um artifício para a obtenção de benefícios individuais. Para Nietzsche, a vaidade é o que torna a visão do ser humano suportável, dissimulando paixões e emoções que moralmente são tidas como vergonhosas. A vaidade tem o papel de humanizar o indivíduo, para que seja mais sociável e cumpra as exigências de uma moralidade estabelecida.

Abstract:

The paper discusses points of some congruence between the criticism of morality in Nietzsche and Mandeville, focusing primarily on vanity. This research considers that Nietzsche and Mandeville, keeping the proper peculiarities of each one, were immoralists in their respective epochs. Through research in published works and in posthumous fragments, it is known that Nietzsche knew the thought of Mandeville. However, was not possible ascertain the extent of the German philosopher’s readings on his predecessor. The searched book of Mandeville was The Fable of Bees: Private Vices, Public Benefits. Due to the extension of Nietzsche’s work, the philosophical discussion about this philosopher focused the two volumes of Human, All Too HumanDaybreak and The Gay Science. Mandeville understood that the existence and not the repeal of vices was the driving force behind the enrichment of society. One of the traits of human nature is vanity. What underlies virtuous deeds is not humility, but pride and vanity. Moral virtue would be a way to gain individual benefits. According Nietzsche, vanity is what makes the view of the human being bearable, disguising passions and feelings that are morally shameful. Vanity fulfills the role of humanizing the individual to be more sociable and fulfills the demands of an established morality.

ISSN: 1980-539X

DOI: https://doi.org/10.1590/0101-3173.2021.v44n1.27.p357

Texto Completo: https://www.scielo.br/j/trans/a/ZcJZJVszrSCSDvVc9JSxjmr/?lang=pt

Palavras-Chave: Moralidade; Vaidade; Nietzsche; Mandeville

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