A Estética da Inteligência: espacialidades em Bachelard e Heidegger
Carlos Ronald Oliveira de Pinho
Bacharel em Humanidades pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira e Mestrando em Filosofia pela Universidade Estadual do Ceará.
12/07/2022
ROCHA, Gabriel Kafure.
A Estética da Inteligência: espacialidades em Bachelard e Heidegger
Editora IFSertãoPE, 2022 | 223 páginas
A presente resenha visa expor brevemente o Livro “Estética da Inteligência: espacialidades em Bachelard e Heidegger” enquanto consequência de um esforço do Professor Dr. Gabriel Kafure em defender sua tese de doutorado, que o próprio autor reconhece como um trabalho com mais de uma tese. Isto implica, ainda sobre este esforço que de forma alguma perderam-se ou confundiram-se ideias em algum aspecto, ademais em geral as teses de um autor são produzidas na tentativa de concatenar diversas descobertas que vão sendo construídas ao longo do processo de criação. Pode-se afirmar, sem dúvida, que existem pontos centrais, nodulares, no trabalho agora mais ampliado da tese de Kafure. Em primeiro lugar a mudança de parte do título original, a saber “Metaontologia dos Espaços” para “Estética da Inteligência” demonstra a evolução do trabalho no que tange ao cerne da (s) Teses. Agora os Espaços não são somente pensados no âmbito ou na seara da Metaontologia, ou seja, no ser nele mesmo, um tema eminentemente importante, diria fundamental para a Filosofia, sob a qual tantos filósofos e poetas tentaram expressar. Os espaços são pensados pela égide da Estética, o que antes na Tese fora pensado enquanto geopoética, agora pela lente Bacherladiana e Heideggeriana passa a ter outra conotação: o status de Estética. Como já expressou Kafure por meio das palavras de Bachelard em “A formação do Espírito Científico”: A ciência é a estética da inteligência.
Ora, refletindo acerca da afirmação acima, logo podemos concluir sem mais delongas que se trata de um axioma, não é expresso uma ciência específica com a qual Bachelard tratou: física, química, matemática, mas a ciência. Portanto, para Bachelard a ciência tem seu ponto de partida e de chegada dada pela Estética, entretanto urdem algumas questões: Como a Estética se relaciona com os Espaços? A Estética apresenta os Espaços de qual modo ou maneira? Ao que Kafure responde:
Tomando essa reflexão como ponto de partida para a relação entre o todo e as suas frações, o espaço enquanto abertura nos leva a questionar, por fim: é possível descobrir na parte o todo, sem tomar a parte pelo todo e, com isso não fazer mais uma metafísica tradicional, mas uma metaontologia enquanto ato epistemológico? (ROCHA, 2022, p.27)
Se olharmos pela lente de aumento a parte está no todo, mas por outro lado a parte se separa do Todo. A importância de tal pergunta se desdobra dentro do que a Filosofia Contemporânea chama de Mereologia, um diálogo bastante fértil, constitui-se como um debate antigo, a exemplo do uno e o múltiplo e remonta-se a filósofos modernos cujos tais o próprio Bachelard mantinha debate em sua obra, no caso de Hegel cf. Filosofia do Não. Com isso me aproximo de Martin Heidegger, do espaço enquanto origem da obra de arte e mais especificamente como nos diz Kafure sobre o quarto sentido da terra como obra de arte, no item 2.3 Lugar e Espaço – Terra e Mundo do livro de Kafure. O item afirma o seguinte:
A terra é, em certa dimensão, o ser enquanto uma de suas possibilidades de ser dito. Haar (1993) descreve alguns sentidos da terra, o primeiro deles é ainda muito próximo da essência da physis grega enquanto Alethea, talvez seja a terra que divida o Rio Lethos daqueles que estão para fazer a passagem deste para a outra margem do desvelar do ser, assim a terra aparece como abertura do clarear do ser. O segundo sentido é a diferença entre terra e mundo, o mundo é fundado na terra, mas ambos têm aspecto e regiões em confronto. O mundo tende a anular o solo (fundamento), e a terra tende a des-historizar as decisões do mundo. Um terceiro sentido é a terra como a natureza e suas espécies, que não tem subsistência sem a terra, assim a terra dá sentido último dos seres naturais. Um quarto sentido seria a terra como descrição material da obra de arte. Por fim, terra é solo, fundamento, é onde se enraíza metafisicamente a filosofia. (ROCHA, 2022, p.73)
A Terra é fundamental para compreender A topoanálise do ser, devido à quadratura, uma vez que é ela que é tanto a Topoanálise no seu sentido ontológico quanto científico, não no sentido científico totalizante, pois confrontar-se-ia com o axioma Bachelardiano: de que a ciência é a estética da inteligência. Assim, perguntamos de maneira curiosa: como a estética é a ciência da inteligência no aspecto ontológico topoanalítico e ainda, de acordo com o resumo da Tese agora ampliado pelo livro de Kafure: de que modo a metaontologia não é analítica, mas pretende realizar uma topoanálise? Perguntamos de forma mais atenta: qual a implicação dessa primeira pergunta no que Kafure chama de Estética da Inteligência. Segundo Kafure isso seria pela imagem da imagem, ou talvez pela imagem do conceito, por isso ele se vale de alguns gráficos para sintetizar essa aproximação entre Heidegger e Bachelard:
(ROCHA, 2022, p 196)
Nesse gráfico dos espaços poéticos em Heidegger e Bachelard, exemplifica-se o espaço poético e a estética correspondente a ele, contudo para que haja tal correspondência é necessário analisá-lo e assim possamos confirmar a conclusão colocada no livro resenhado.
De acordo com o gráfico a Conclusão é verossímil com a Tese exposta por ater-se ao imaginário em Gaston Bachelard projetando o espaço poético e criando uma conexão com a quadratura ou quaternidade assim como Heidegger a expôs em sua ontologia estética. Isso nos faz ter um horizonte filosófico para analisar as espacialidades nas paisagens, nas artes, bem como na própria cientificidade, no qual os espaços também nos levam às dimensões infinitas do universo.