Ensaios inspirados em ficção científica

Susana de Castro

Professora do Departamento de Filosofia e do Programa em Pós-Graduação em Filosofia da UFRJ; Integrante do GT Filosofia e Gênero da Anpof.

17/04/2022

Editora: 7letras | Ano: 2019 | 74 páginas | Link para compra

Qual a nossa origem? Qual o destino da humanidade? Há vida em outros planetas? Seremos capazes de nos comunicar com seres extraterrestres? Essas e outras perguntas, sem reposta, permeiam os ensaios do livro de Rosana Suarez. Nos reencontramos ao longo dos oito ensaios com filmes de ficção anteriormente vistos, mas que sob a lente de Suarez ganham uma outra significação, mais densa. A autora não se furta a fazer comentários sobre os paradoxos da física espacial, como o do tempo e espaço, e o da entropia, analisados à luz da física cósmica de Carl Sagan e dos contos de Arthur C. Clark. Clássicos da ficção científica como “2001 odisseia no espaço” (1968) de Stanley Kubrick e “O caçador de androides” (Blade Runner, 1982) de Ridley Scott são dissecados sucintamente sem muito rodeio. Com a ajuda da filosofia de Nietzsche, a filósofa brasileira vai direto ao ponto, mostrando qual o problema filosófico em jogo em cada filme e livro.

Suarez nos mostra o potencial de diálogo frutífero entre a produções cinematográficas de ficção cientifica e as questões filosóficas metafisicas e ontológicas. Todos os ensaios são ricos em análises apuradas, mas destacaria o ensaio intitulado “Distopia: “mal-estar na cultura”, no qual utilizando-se da tese de Jurandir Freire Costa acerca da distopia, mostra o quanto a ficção cientifica é o lugar oportuno para experimentar o desconforto com o suposto avanço científico tecnológico. O extremo dessa distopia é conto da Philipp K. Dick, “Minority Report” (depois filmado por Steven Spielberg), no qual sencientes conseguem se comunicar com supercomputadores capazes de acumular todas as informações disponíveis no planeta e assim com base nisso prever e coibir crimes futuros, impedir que eles aconteçam.

Hoje com as redes sociais e as fake news vivenciamos o lado perverso da possibilidade de que as redes sociais trabalhem com algoritmos capazes de prever o que o indivíduo pensa e assim influenciar suas decisões tanto no que diz respeito ao consumo quanto ao que diz respeito à política. As redes sociais são hoje vitrines de exibição e vaidade pessoal, e ao mesmo tempo que mostram o sucesso dos internautas podem servir também como espaço para seu ‘cancelamento’. Vide o exemplo recente do deputado do podemos Arthur Val.

O livro é muito instigante e certamente merece ser lido tanto pelos aficionados pelo gênero e filósofos interessados em questões metafísica, quanto por professores do ensino médio interessados em abordar temas filosóficos em sala de aula de uma forma lúdica.